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Resenha:PAZ, Carlos Eugênio Viagem à Luta ArmadaRio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1996. | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
Lincoln Secco
Lincoln_Secco@revistapraxis.cjb.net
Membro da Editoria da Revista Práxis.
A história da esquerda armada no Brasil (1968-1973) ainda está por ser feita. Apesar dos vários livros de memórias dos militantes da época, sempre a imagem do período aparece fragmentada, cada um contando sua versão e focalizando sua própria trajetória. Viagem à luta armada, livro de estréia de Carlos Eugênio Paz, ajuda a esclarecer alguns fenômenos políticos daqueles anos de chumbo. Escrito em tom memorialístico e romanceado, usando nomes fictícios para os personagens reais, o romance-memória de Paz fica no meio do caminho entre um relato bem articulado, como os de Fernando Gabeira e Alfredo Sirkis, e um romance quase "policial" (sic), que prende o leitor do início ao fim.
Essa maneira de narrar os fatos, de uma rajada só, como se o autor ainda estivesse disparando a esmo contra um inimigo imaginário que está em todo lugar, parece ser a chave para compreender suas memórias. O inimigo pleno de realidade, materializado em ferozes funcionários da repressão política, são substituídos pelos inimigos imaginários que atormentam a alma de narrador amargurado nos momentos em que sua narrativa sofre uma quebra e o flash back cede lugar às drogas, à "viagem", depois à terapia (não são certamente as partes mais eletrizantes do livro, mas são as mais líricas).
Carlos Eugênio Paz não se quer mostrar como a síntese de sua geração, porque ele sobreviveu e, solitário e fantasmagórico, foi para o exílio parisiense e resvalou equivocadamente para as drogas e terminou num bom divã. Seria então uma simples aventura juvenil. Não é esse o caso. O que o livro traz de contribuição é o levantamento involuntário da atmosfera psicológica da juventude transviada dos anos sessenta.
Primeiro, o autor ensaia conscientemente explicar a revolta juvenil e fracassa: "foram os militares que derrubaram um governo legítimo e eleito"; ora, a esquerda armada não era fã de eleições e democracia, mas da "ditadura do proletariado" (fosse em Cuba, Argélia ou China); "a esquerda lutava pelo povo ou os oprimidos"; ora, ela estava socialmente mais perto dos seus algozes do que das massas que julgava defender.
A explicação sugestiva é a dos padrões psicológicos e comportamentais. Começa-se a responder uma pergunta insistente: o que levou algumas centenas de adolescentes de classe média a cometerem suicídio político pensando poder derrotar um exército de dezenas de milhares de homens bem armados? Eis uma resposta: "Entrando na vida no momento em que os militares dirigiam o país como uma grande caserna, nos dizendo o que fazer, com quem e como andar, que filme assistir, como pensar e agir, nossa revolta foi profunda. E que capacidade de revolta tem a juventude, idade dos extremos" (p. 56).
O livro de Carlos Eugênio Paz não faz uma autocrítica da luta armada e foge de um mea culpa da execução estúpida de Márcio Leite de Toledo ordenada pela própria direção da ALN, da qual Paz fazia parte, mas pelo depoimento pessoal e lírico, às vezes cáustico e eletrizante. O seu livro merece ser lido com a advertência de sua companheira, a guerrilheira Ana Maria Nacinovic, fuzilada pela repressão: "não era para perdermos a ternura ...".
Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, pertencente à Revista Práxis número 8, Março de 1997, tenha sido proveitosa e agradável.
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