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| Resenha:ALMEIDA, Jorge Como Vota o BrasileiroSão Paulo, Ed. Casa Amarela, 1996. | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
Lincoln Secco
Lincoln_Secco@revistapraxis.cjb.net
Membro da Editoria da Revista Práxis.
Responder à pergunta em quem votará o eleitorado brasileiro numa determinada eleição nem sempre é tarefa fácil, mas a pesquisa dos padrões estruturais que orientam o voto pode gerar resultados aproximados que ajudam um candidato ou força política a ganhar eleição.
O dirigente petista Jorge Almeida, membro da coordenação da campanha Lula em 1994, acaba de publicar o livro Como Vota o Brasileiro, baseado numa série de pesquisas eleitorais realizadas durante o ano de 94 e que registraram as principais opiniões e tendências dos eleitores brasileiros naquele período. A obra trata de diversos temas de interesse não só de sociólogos e acadêmicos, mas principalmente de militantes de esquerda: em primeiro lugar porque foi escrita por um militante petista e não por um pesquisador que pretenda foros de "neutralidade axiológica" (Weber); em segundo lugar porque incide sobre a relação às vezes esquizofrênica da esquerda com as pesquisas, que pode transitar do preconceito à adesão pragmática e eleitoreira.
Jorge Almeida trata de temas complexos de forma concisa e simples: a pesquisa como instrumento de definição de estratégias políticas que pode servir, tanto a uma comunicação eficiente e ética com o eleitor quanto ao discurso demagógico e mistificador da realidade; a manipulação das pesquisas; a decisão sobre sua divulgação; metodologia e tipo de perguntas feitas aos entrevistados como modo de induzir os resultados; a influência de resultados de pesquisas na definição do voto etc.
Mas para além desses temas, o livro ressalta dois assuntos de notável interesse: as eleições de 1994, com a influência do plano real e o comportamento/opinião dos eleitores sobre os temas essenciais da vida social. Pode-se afirmar que o autor dedicou quase metade do livro à reprodução das pesquisas realizadas por diversos institutos (Gallup, Datafolha, Sensus, Cbpa, Ibope, Vox Populi etc.), o que é uma grande contribuição documental àqueles que fazem no seu dia a dia análises de conjuntura eleitoral, sejam dirigentes partidários sejam simples militantes que se engajam nas campanhas.
Essas pesquisas nos informam desde os preconceitos mais arraigados no senso comum da população brasileira até os elementos de uma cultura alternativa que pode potencializar um discurso contra-hegemônico da esquerda. As razões da rejeição a Lula, as suas virtudes aos olhos do povo, os defeitos, as esperanças, as reações aos padrões comportamentais, as prioridades, as reações aos termos ideológicos. Em 94, a população demonstrava grande confiança nos sindicatos, nos padres católicos, na participação popular e na cidadania; considerava agradáveis os termos socialismo, estabilidade no emprego, reforma agrária, redistribuição de renda, direitos humanos e ética, mas recusava os termos comunismo, radical, monopólio do Estado, elites e desconfiava da CUT, dos pastores evangélicos, do presidente da república etc.
O conhecimento dessas informações deve servir para orientar a esquerda sobre a sua imagem diante dos eleitores, sabendo inclusive que muitos dos que votam no PT pensam muito diferente daqueles que militam no partido não se deve esquecer que boa parte da imagem do PT é gerada pelos adversários que monopolizam os meios de comunicação, posto que somente alguns minutos nos horários gratuitos do TRE/TSE e em algumas entrevistas na TV não fazem frente à avalanche de telejornais e mesmo ficções que reproduzem idéias e comportamentos antagônicos ao nosso projeto de sociedade.
Não comprar brigas vãs em torno de temas laterais e sem comprometimento dos nossos princípios fundamentais parece ser uma boa tática, mas isso não pode significar render-se ao senso comum que, como dizia Gramsci, é a tradução popular dos temas produzidos pelos grandes ideólogos e que reforçam a hegemonia da classe dominante. Buscar o justo caminho nesse caso é muito difícil, mas é essa combinação entre a geração de uma imagem que agrade a maioria do eleitorado e a defesa da cidadania e da justiça social que permitirá não só ganhar eleições, mas mudar realmente o Brasil. Não sei se as idéias aqui expostas seriam defendidas pelo autor, mas não é preciso concordar com todas as opiniões de Jorge Almeida para ressaltar a importância do seu livro.
Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, pertencente à Revista Práxis número 8, Março de 1997, tenha sido proveitosa e agradável.
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