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Porque o Socialismo?

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Albert Einstein

 

do Original

Ideas & Opinions

Why the Socialism?

A. Einstein

Ed. Bonanza Books

U.S.A.

 

 

Tradução do Inglês

Néliton G. Azevedo

 

 

Da tradução inglêsa:

 

Título: Ideas & Opinions

Capítulo: Why the Socialism?

Autor: Einstein, A.

Editora: Bonanza Books

Edição: N. York, U.S.A., 1954

 

Idéias e Opiniões

Porque o Socialismo?

A. Einstein

 

Tradução do Inglês: Azevedo, Néliton G.

Faculdade de Economia e Administração

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, Dezembro de 1995.

Dedicatória

A Mário Schenberg e Caio Prado Júnior pela ousadia do sonho e a coragem da luta.

N. Azevedo

'Einstein ao Violino'. Desenho à carvão do artista plástico russo L. Pasternak

 

Albert Einstein
ao violino

 


"Vejo os homens se diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela violência." - Albert Einstein

 

 

Prefácio do Tradutor

Néliton Azevedo

Albert Einstein nasceu em Ulm, Alemanha, em 14 de Março de 1879. Filho de judeus não praticantes, freqüentou uma escola primária católica, detestava sua rígida disciplina. Mudou-se para a Suíça. Sendo admitido como estudante de Matemática e Física no Instituto Politécnico de Zurich, adotou a nacionalidade suíça. Graduando-se em 1900, trabalhou no Registro de Patentes de Berna. Em 1905 publicou três artigos no jornal científico alemão Annalen der Physik, onde expõe suas teses (*) sobre o Efeito Fotoelétrico e a Teoria da Relatividade Restrita. Obtendo sua tese de doutorado, tornou-se professor substituto na Universidade de Zurich (**). Neste período pesquisou o comportamento dos quanta luminosos e o movimento browniano, construindo uma teoria da gravitação que unificou os conceitos de massa inercial e gravitacional.

Trabalhando em Praga, ampliou os limites de validade de sua Teoria da Relatividade Restrita, para incluir a gravitação, criando a Teoria da Relatividade Geral. Em 1913, retornou a Berlim, tornando-se membro da Real Academia de Ciências da Prússia. Em 1917, propôs uma teoria estatística da interação entre átomos e fótons e um modelo de universo em função da matéria em gravitação uniformemente repartida. Em 1921 recebeu o Prêmio Nobel.

Com a ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha, em 1933, Einstein pediu seu desmembramento da Academia de Ciências da Prússia enquanto estava viajando pelos Estados Unidos; nunca mais retornou à Alemanha. Aceitou um cargo no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, E.U.A., continuando suas pesquisas na Teoria do Campo Unificado, através de modelos geométricos. Em 1937 publicou, com N. Rosen, a solução das equações de campo para as ondas gravitacionais. No ano seguinte, num trabalho em colaboração com L. Infeld e B. Hoffmann, tratou do movimento das partículas a partir das equações do campo gravitacional.

Durante e após a Segunda Grande Guerra trabalhou nos Estados Unidos, ampliando seus trabalhos sobre a Relatividade Geral, Cosmologia, Teoria da Gravitação e pesquisando a Teoria do Campo Unificado.

Aposentou-se em 1945, continuando a trabalhar e a aprimorar suas pesquisas até falecer, em Princeton, em 18 de Abril de 1955.

É interessante observar, por seus escritos "não técnicos", como Einstein evolui, de posições próximas do positivismo, na direção do materialismo consciente. Em sua trajetória como cientista, as suas investigações "teimavam" em negar suas posições filosóficas de juventude. As posições do cientista Albert Einstein, sua confiança na Ciência, foram mudando as posições do homem Albert Einstein.

O grande cientista, que revolucionou os conceitos básicos constitutivos das Ciências Exatas e construiu um sistema teórico harmônico e coerente, sempre assumiu posições progressistas e pacifistas em relação à política mundial, ao armamentismo, à paz, à questão judaica. A retidão do cientista e suas atividades de pesquisa, aliadas ao seu humanismo convicto, ajudaram Einstein a caminhar progressivamente das posições positivistas iniciais ao encontro das posições materialistas e o forçaram a rever, e inverter, suas posições filosóficas. Sempre que suas convicções filosóficas venceram o seu espírito investigador, Einstein se chocou com suas próprias evidências.

Antes da elaboração da Teoria da Relatividade, era lógica a suposição de que as Leis da Física fossem válidas para velocidades muito superiores àquelas em que haviam sido estudadas e experimentalmente estabelecidas. A Física Experimental negou esta suposição. Os caminhos da Ciência costumam ser assim.

Einstein, no seu modelo de Universo, através de idéias preconcebidas, substituiu a distribuição real das massas por uma distribuição média uniforme da matéria. Para tal teve de acrescentar às equações da gravitação de seu modelo matemático de Universo um elemento adicional. O matemático russo A. Friedmann estudou a solução das equações, sem este elemento, chegando à conclusão de que o Universo se expande continuamente, construindo um modelo aberto de Universo, em contraposição ao modelo fechado de Einstein. Einstein, em princípio, criticou o trabalho de Friedmann. Mais tarde foi obrigado, pelos fatos, a aceitar o modelo de Friedmann e a rejeitar suas idéias iniciais. O modelo de Friedmann foi confirmado pelo astrônomo norte-americano E. Hubble, através da observação, pelo Efeito Doppler, da trajetória das estrelas.

Teorias científicas não são livres invenções intelectuais, como pensou Einstein, mas devem corresponder ao comportamento real do Universo, e mais, não devem ser feitas afirmações categóricas para explicar fenômenos insuficientemente estudados e negar o inexplicável.

Certa vez, Einstein polemizou com os físicos que estavam elaborando os métodos da Física Quântica Estatística: "Deus não joga dados" afirmou. No entanto, fenômenos do mundo das partículas elementares têm comportamento estatístico cientificamente demonstrável: a Natureza "joga dados".

Por mais que dele discordemos sobre suas premissas estéticas na "criação" de teorias científicas "livremente elaboradas", suas análises da influência da subjetividade na investigação científica são bastante profundas e muito contribuíram para o desenvolvimento do estudo epistemológico da gênese da Ciência.

Suas teorias e descobertas constituem uma das maiores contribuições do século XX ao desenvolvimento da visão materialista do mundo: por exemplo, ao unificar os conceitos de energia e massa, Einstein deu um passo vital na compreensão da unidade material do Universo.

O livro Ideas & Opinions, publicado em 1953, dois anos antes de sua morte, pela Editora Bonanza Books, de New York, é uma coletânea de artigos escritos por Einstein, a maioria entre finais da década de 40 e inícios da de 50. Um dos seus Capítulos é o artigo Why the Socialism?, aqui traduzido. Sendo obra de maturidade, o artigo reflete as conclusões acerca dos sistemas sócio-econômicos existentes e marca a sua opção, baseada no confronto das experiências acumuladas ao longo da vida. O artigo, para um estudioso das ciências sociais, pode parecer ingênuo. Mas, escrito num período histórico agudo, com o nascimento do macartismo, a guerra fria, o início da crise do estalinismo, sua maior importância talvez não esteja, apenas, no texto em si, mas na decisão tomada de escrevê-lo. O cientista, consciente de sua importância no cenário cultural mundial, assume, claramente, um partido.

De maneira puntual, o artigo aborda temas críticos, hoje como há 40 anos; deixo ao leitor o juízo sobre a atualidade desses temas.

 


* Devido a um erro do editor responsável pela edição impressa, o termo original "teses" foi substituido, na versão impressa pelo termo "opiniões". Aqui, corrigimos o equívoco, restaurando a escrita original. [Nota do WebMaster, NW]

** Devido a um erro semelhante do mesmo editor responsável pela edição impressa, o termo original "Zurich" foi substituido, na versão impressa, pelo termo aportuguesado "Zurique". Novamente, corrigimos o equívoco, restaurando a escrita original. [NW]


Albert Einstein na Universidade de Princeton

Albert Einstein em Princeton, EUA.



Porque o Socialismo?

É recomendável para um leigo em assuntos econômicos e sociais expressar seus pontos de vista sobre o socialismo? Creio que sim, por vários motivos.

A Tradição do Passado

Primeiramente, vamos considerar a questão do ponto de vista do conhecimento científico. Pode parecer que não há diferenças metodológicas importantes entre a Astronomia e a Economia: os cientistas de ambos os campos procuram descobrir leis de aceitação geral para um grupo circunscrito de fenômenos, com o propósito de encontrar a interdependência desses fenômenos do modo mais claro e inteligível possível. Entretanto, na realidade, essas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis gerais no campo da economia torna-se difícil, na medida em que o fenômeno econômico observado, às vezes, é afetado por muitos fatores difíceis de serem avaliados em separado. Além disso, a experiência acumulada desde o princípio do chamado Período Civilizado da História Humana tem sido, como se sabe, amplamente influenciada e limitada por causas que, em nenhum caso, são de natureza exclusivamente econômica.

Por exemplo, a maioria dos Estados mais poderosos da História deve sua existência às conquistas. Os próprios povos conquistadores se estabeleceram legal e economicamente como a classe privilegiada dos povos conquistados. Monopolizaram para si a terra ocupada e formaram uma casta de sacerdotes entre os da sua própria classe Os sacerdotes, controlando a educação, fizeram da divisão da sociedade em classes uma instituição permanente e criaram um sistema de valores mediante o qual as pessoas do povo foram, desde então, inconscientemente guiadas no máximo grau em seu comportamento social.

No entanto, a tradição histórica faz parte, podemos dizer, do passado; realmente não superamos em nenhum lugar, o que Thorstein Veblen chamou de A Fase Predatória do desenvolvimento humano. Os fatos econômicos observáveis pertencem à essa etapa e as leis que podem deles ser deduzidas não são aplicáveis às outras etapas. Já que a finalidade do socialismo é exatamente ultrapassar e ir além da Fase Predatória do desenvolvimento humano, a ciência econômica em seu atual estado pode incidir uma pequena luz sobre a futura sociedade socialista.

Por outro lado, o socialismo está voltado para um fim social e ético. De fato, a ciência não pode criar objetivos e muito menos inculcá-los nos seres humanos; pode, no máximo, fornecer os meios para alcançar certos fins. No entanto, os fins em si mesmos são concebidos por personalidades com ideais éticos elevados e, se esses fins não nasceram mortos, e sim vitais e vigorosos, são adotados e levados adiante por essa grande quantidade de seres humanos que, de forma parcial, inconscientemente, determina a lenta evolução da sociedade.

Por esses motivos, deveríamos estar atentos para não subestimar a ciência, ou seus métodos, quando tratamos de problemas humanos e não deveríamos aceitar que os especialistas sejam os únicos com o direito de opinar sobre questões que dizem respeito à organização.

O Simples Desaparecimento da Raça Humana

Muitíssimas vozes garantem que a sociedade humana está passando, há já algum tempo, por uma crise, que sua estabilidade tem sido gravemente perturbada. Nessa situação é comum que os indivíduos se sintam indiferentes e hostis ao grupo, pequeno ou grande, ao qual pertencem. Para exemplificar o que quero dizer, descreverei aqui uma experiência pessoal. Há algum tempo, discuti com um homem, inteligente e bem informado, sobre o risco de outra guerra que, na minha opinião, colocaria em sério perigo a existência do gênero humano e observei que apenas uma organização supranacional ofereceria proteção contra esse perigo. Em seguida, meu interlocutor, de maneira calma e fria, perguntou: "Por que você é tão profundamente contra o desaparecimento da raça humana?" Estou certo de que há apenas um século atrás ninguém faria um julgamento dessa espécie. É o julgamento de um homem que, em vão, se esforçou para conseguir um equilíbrio interno e perdeu a esperança de que isso possa acontecer. É a expressão de uma dolorosa solidão, de um isolamento que, hoje em dia, muitos sofrem. Qual é a sua causa? Há uma saída? É fácil formular essas perguntas, mas difícil respondê-las com um certo grau de certeza. Realmente, devo procurar fazê-lo o menos possível, embora esteja bastante consciente do fato de que nossos sentimentos e esforços são, às vezes, contraditórios e obscuros e que não podem ser expressos em fórmulas simples.

O Indivíduo e a Sociedade

O homem é, ao mesmo tempo, um ser solitário e um ser social. Como ser solitário, busca proteger sua própria existência e a dos que estão mais próximos dele, para satisfazer seus desejos pessoais e para desenvolver suas habilidades inatas. Como ser social, procura ganhar o reconhecimento e o afeto dos outros seres humanos, participar dos seus prazeres, reconfortá-los nos seus sofrimentos e melhorar as suas condições de vida. É a existência destes diversos e, freqüentemente, conflitivos esforços que explica o caráter especial do homem e numa combinação específica determina a extensão na qual pode conseguir um equilíbrio interno e contribuir para o bem-estar social. É bem possível que a força relativa destas duas direções seja determinada, fundamentalmente, pela herança genética. Entretanto, a personalidade que finalmente emerge é, na sua maior parte, determinada pelo meio ambiente no qual um homem casualmente se encontra a si mesmo durante o seu desenvolvimento, pela estrutura social em que cresce, pelas tradições dessa sociedade e por sua avaliação de tipos particulares de conduta. O conceito abstrato Sociedade significa para o ser humano individual a soma total de suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indivíduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar por si mesmo, mas depende tanto da sociedade, na sua existência física, intelectual e emocional, que é impossível pensar nele ou compreendê-lo fora da estrutura da sociedade. É a sua Sociedade que lhe fornece casa, comida, roupas, instrumentos de trabalho, linguagem, as formas de pensamento e a maior parte do seu conteúdo; sua vida se deve ao trabalho e às habilidades de muitos milhões de seres humanos, passados e presentes, escondidos atrás da pequena palavra Sociedade.

Ao Contrário das Formigas

Desse modo, é evidente que a dependência do indivíduo em sua relação com a sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido, como no caso das formigas e das abelhas. De fato, enquanto o processo total da vida das formigas e das abelhas está condicionado em todos os detalhes pelos rígidos instintos hereditários, o modelo social e as inter-relações dos seres humanos são variáveis e passíveis de mudança. A memória e a capacidade de construir novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possível desenvolvimentos entre seres humanos que não são comandados por necessidades biológicas. Tais desenvolvimentos manifestam-se através das tradições, instituições e organizações, na literatura, em realizações científicas e de engenharia, nas obras de arte. Isso explica porque, em certo sentido, um homem pode influenciar a sua vida através da sua própria conduta e, também, como o pensamento e o desejo conscientes podem desempenhar um papel neste processo.

Quando nasce, o homem adquire, através da herança genética, uma constituição biológica que devemos considerar como fixa e inalterável, incluindo os impulsos naturais, característicos da espécie humana. Além disso, durante a sua vida, adquire uma constituição cultural que adota da sociedade através da comunicação e de muitos outros tipos de influências. É esta constituição cultural que, com o passar do tempo, está sujeita a mudanças e que determina, em grande parte, a relação entre o indivíduo e a sociedade.

A moderna Antropologia nos ensina, por meio da pesquisa comparativa das assim chamadas culturas primitivas, que a conduta social dos seres humanos pode diferir muito, dependendo dos padrões culturais e tipos de organização predominantes na sociedade. É neste fato que aqueles que lutam para melhorar a humanidade como um todo podem alimentar suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, por sua constituição biológica, a aniquilar-se entre si ou a ficar à mercê de um cruel e auto-inflingido destino.

Se nos perguntarmos como deveria ser alterada a estrutura da sociedade e que atitude cultural adotar para tornar a vida humana mais satisfatória, deveremos estar sempre conscientes de que há certas condições que somos incapazes de mudar. Como disse antes, a natureza biológica não está sujeita, para todas as finalidades práticas, às mudanças. Além disso, o desenvolvimento tecnológico e demográfico dos últimos séculos criou as condições existentes atualmente. Nas populações sedentárias relativamente densas, com os bens indispensáveis para a sua existência contínua, são necessários uma extrema divisão do trabalho e um aparato produtivo altamente centralizado. O tempo, que, olhando para o passado, parece idílico, em que indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente auto-suficientes, terminou para sempre. É apenas um pequeno exagero afirmar que a espécie humana constitui, ainda hoje, uma comunidade universal de produção e consumo.

A Fonte do Mal

Cheguei ao ponto onde quero indicar brevemente qual é, para mim, a essência da crise do nosso tempo: a relação dos indivíduos com a sociedade. O indivíduo tornou-se mais do que nunca consciente da sua dependência para com a sociedade. Entretanto, ele não vivência essa dependência como um valor positivo, como um laço orgânico, mas, muito ao contrário, como uma ameaça aos seus direitos naturais ou mesmo à sua própria existência econômica. Além disso, sua posição na sociedade é tal que as direções egoístas da sua constituição estão se acentuando constantemente, ao passo que as suas direções sociais, que por sua natureza são mais débeis, se deterioram progressivamente.

Todos os seres humanos, independentemente das suas posições sociais, estão sofrendo deste processo de deterioração. Prisioneiros sem consciência de seu próprio egoísmo, sentem-se inseguros, solitários e desprovidos das mais ingênuas, simples e tolas alegrias. O homem pode encontrar significado na vida, curta e perigosa como é, apenas dedicando-se à sociedade.

A anarquia econômica da sociedade capitalista, tal como existe hoje, é, na minha opinião, a real fonte do mal. Assistimos a uma enorme quantidade de produtores, cujos membros lutam incessantemente entre si para munir-se dos frutos do seu trabalho coletivo, não através da força, mas através de normas estabelecidas legalmente. Neste sentido, é importante entender que os meios de produção, isto é, a capacidade produtiva total necessária para a produção dos bens de consumo, assim como dos bens de capital adicionais, podem legalmente ser, e a maior parte é, propriedade privada de alguém.

A Propriedade e o Trabalho

Para simplificar o raciocínio, na discussão seguinte chamarei de Trabalhadores a todos que não participam da propriedade dos meios de produção, embora não corresponda totalmente ao uso rotineiro do conceito. O proprietário dos meios de produção reúne condições para comprar a força de trabalho do Trabalhador. Utilizando-se dos meios de produção, o Trabalhador produz novos bens que se transformam em propriedade do Capitalista. O centro deste processo é a relação entre o que o Trabalhador produz e o que recebe como pagamento, ambos medidos em termos de valor real. Enquanto a contratação de mão-de-obra é "livre", o que o Trabalhador recebe não é determinado pelo valor real dos bens que produz, mas por suas necessidades básicas e pelas necessidades do Capitalista da força de trabalho, com relação ao número de trabalhadores que competem entre si pelos empregos.

É importante compreender que, mesmo na teoria, o pagamento ao Trabalhador não é determinado pelo valor do seu produto. O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte pela concorrência entre os Capitalistas, e em parte porque o crescente desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho estimulam a formação de grandes unidades de produção, às custas das pequenas unidades. O resultado desse desenvolvimento é uma oligarquia de capital privado, cujo enorme poder não pode ser contido, nem ao menos mediante uma sociedade politicamente organizada de maneira democrática. Isto se torna verdadeiro na medida em que os membros dos Órgãos Legislativos são escolhidos por partidos políticos, amplamente financiados ou influenciados, de uma ou outra maneira, pelos capitalistas privados que, devido a objetivos práticos, separam o eleitorado dos seus representantes no parlamento. A conseqüência é que os representantes do povo não protegem de modo eficiente os interesses das camadas desamparadas da população. Além disso, nas condições atuais, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, de maneira direta ou indireta, as principais fontes de informação (Imprensa, Rádio, Educação). Dessa forma, é extremamente difícil, e na verdade na maioria das vezes impossível, para o cidadão chegar a conclusões objetivas e fazer uso racional de seus direitos políticos.

Os Princípios do Capitalismo

Assim, a situação predominante numa economia apoiada na propriedade capitalista privada se caracteriza por dois princípios fundamentais: um: os meios de produção (capital) são de propriedade privada e seus proprietários dispõem deles de acôrdo com os seus interesses; dois: a contratação de mão-de-obra é livre. Certamente não existe uma sociedade capitalista pura neste sentido. Particularmente, podemos notar que os trabalhadores, através de amplas, sofridas e encarniçadas lutas políticas, conseguiram obter melhores formas de "livre-contratação de mão-de-obra" para certas categorias de trabalho. No entanto, considerada em seu conjunto, a economia atual não difere muito do capitalismo "puro". A produção é orientada para o lucro, não para o uso. Não há garantias de que todos aqueles indivíduos capazes e com vontade de trabalhar terão, sempre, condições de conseguir trabalho; existe quase permanentemente, um "exército de desempregados". O trabalhador está permanentemente com medo de perder seu emprego. Visto que os desempregados e os trabalhadores mal remunerados não formam um grande mercado de consumo, a produção de bens de consumo fica restrita, o que provoca graves conseqüências.

O progresso tecnológico freqüentemente se traduz em maior desemprego e não em uma redução da carga de trabalho para todos. A motivação do lucro, em conjunto com a concorrência entre os capitalistas, são responsáveis por uma instabilidade na acumulação e por uma utilização do capital que leva a recessões cada vez maiores. A concorrência ilimitada leva a uma grande desvalorização de mão-de-obra, prejudicando a consciência social dos indivíduos. Esse prejuízo para os indivíduos me parece o mal maior do capitalismo. Nosso sistema educacional sofre deste mal. Uma exagerada atitude competitiva é inculcada nos estudantes, que são estimulados a supervalorizar a acumulação de bens materiais como preparação para suas futuras profissões.

A Planificação não é o Socialismo

Estou certo de que há uma única maneira de eliminar estes grandes males: o estabelecimento de uma economia socialista, aliada a um sistema educacional voltado para os objetivos sociais. Nessa economia, os meios de produção são propriedade da sociedade e utilizados de forma planificada. Uma economia planificada, que coteja sua produção com as necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho de tal maneira que todos poderiam trabalhar, e garantiria uma vida digna para cada homem, mulher e criança. A educação do indivíduo, além de estimular suas próprias habilidades inatas, procuraria desenvolver um senso de responsabilidade para com o próximo, ao invés de incentivá-lo à glorificação do poder e da vitória, como ocorre em nossa sociedade atual.

Sem dúvida, é necessário lembrar que uma economia planificada não é sinônimo de socialismo. Uma economia planificada pode ser acompanhada de uma total escravização do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sócio-políticos extremamente difíceis: como é possível, diante da concentração do poder político e econômico, evitar que a burocracia se torne toda-poderosa e arrogante? Como é possível proteger os direitos dos indivíduos, para garantir, assim, um contrapeso democrático ao poder burocrático?


Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, publicado pela Revista Práxis, em seu número 7, de Junho de 1996, como parte das homenagens aos 40 anos de morte de Albert Einstein, tenha sido proveitosa e agradável. Obrigado.

São permitidas a reprodução, distribuição e impressão deste texto com a devida e inalienável citação da sua origem. Direitos Reservados ©.


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