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| Resenha:FAUSTO, Boris História do BrasilSão Paulo, EDUSP/FDE, 1994, 654 págs. | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
Marco Antônio de Oliveira
Marco_Antonio_Oliveira@revistapraxis.cjb.net
Historiador, USP, São Paulo.
A pouca inovação deste livro pode frustar os professores de história. Apesar da proposta confessa do historiador Boris Fausto em oferecer ao público uma obra de informação sobre a trajetória brasileira nesses quase quinhentos anos de história, não há como negar alguma frustração de expectativas que História do Brasil, lançado no começo de 1995, gerou naquele ano letivo. Decerto, um dos grandes méritos da obra é a apresentação dos debates historiográficos sobre os principais temas que cercam nossa história, com a tomada de posição do autor diante deles. Porém, quando se esperava um trabalho para pensar os 494 anos da história brasileira, o que se vê é pouco mais do que um manual tradicional.
Nas suas mais de 650 páginas, Bóris Fausto acaba deixando-se levar pela acentuada descrição de fatos, sempre no afã de informar o público leigo. Nada mais frustrante com relação a um historiador de seu porte. E isso causa ainda mais estranheza justamente por ser de uma leveza didática sem igual no tratamento de nosso primeiro período de convenção histórica. Apesar da maior ênfase no período que se inicia em fins do século XIX (por estar mais presente em nossa memória e incidir diretamente nas opções da atualidade, segundo o próprio autor), contraditoriamente o período colonial nos é dado através de uma análise mais rica, incompreensivelmente abandonada nos períodos posteriores.
Abandonando sua "olhada geral no Brasil", ou seja, a análise de conjunto, só retomada ao final para os anos que vão de 1950 a 1980, o professor Boris Fausto acaba comprometendo sua hipótese de considerar toda a política econômica governamental, tanto em nível ideológico como prático, uma "manifestação particularmente privilegiada das relações entre o Estado e a economia" (p. 14). Perdendo o conjunto para a descrição quase sumária de fatos, segue-se um amontoado de informações inúteis, como saber que o ex-presidente Médici "descendia de italianos na linha paterna e sua mãe é de origem basca" (p. 482), ou que o ex-ministro Delfim Netto, por ser de origem humilde, não pôde realizar seu sonho de entrar na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo USP e foi parar na FEA, Faculdade de Economia e Administração da mesma universidade, talvez para "azar" dos trabalhadores brasileiros.
A História do Brasil é eminentemente uma história político-administrativa, como deixa claro o historiador, com suas preferências analíticas recaindo nos atores que representavam o círculo do poder. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo" (4/12/94), Boris Fausto se justifica argumentando que afinal foram eles os vencedores que impuseram seus projetos ao País, não fazendo sentido a "história dos vencidos", pois estes como tais foram sugados. Duplamente estranho para quem conhece o Boris Fausto de livros como Trabalho Urbano e Conflito Social, em primeiro lugar por ser um rompimento com uma análise puramente político-administrativa, inovando com a metodologia do cotidiano histórico e, em segundo, por ter justamente como destaque os "vencidos".
Mas talvez resulte daí a constante crítica à participação da esquerda no processo político brasileiro. Classificada ao lado dos liberais como "irresponsável" e ao lado dos conservadores como "autoritária", Boris Fausto introduz uma importante crítica à participação da esquerda (crítica até há pouco tempo desonesta, com autores sintonizados com o regime autoritário), uma vez que indiretamente acaba questionando o próprio imobilismo e o vício dos manuais de História e Geografia, que sempre tendem a vê-la como uma força progressista (bajulação espertamente calculada, pois costuma render um bom faturamento às editoras).
Boris Fausto não a poupa de severas críticas que, segundo ele, associando "liberalismo com domínio das oligarquias (...) não dava muito valor à chamada democracia formal", sendo igualmente responsável pelos regimes autoritários desde os primeiros tempos da República, passando pelo Estado Novo até o golpe de 64 clara opção política e boa provocação do historiador, que passou desapercebida pela esquerda brasileira.
Por fim, lembro de passagem um professor que dizia odiar "esses livros que não trazem índice remissivo". Embora seja um problema que possivelmente fuja à alçada do autor, por ser um livro, como o próprio Boris Fausto salienta, "de informação", com todos os méritos do glossário biográfico no final do volume, seria também de grande valia o referido índice remissivo, por possibilitar aos leitores uma rápida consulta.
Caro Leitor, esperamos que a leitura desta resenha, pertencente à Revista Práxis número 6, Janeiro de 1996, tenha sido proveitosa e agradável.
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