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Resenha:

de HOLANDA, Chico Buarque

Benjamim

Ed. Companhia das Letras, São Paulo, 1995. 168 págs.

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Ronald Rocha
Ronald_Rocha@revistapraxis.cjb.net

Sociólogo, membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, da Editoria da Revista Práxis, do Conselho de Colaboradores da revista Crítica Marxista e do Conselho Deliberativo da revista Teoria e Debate.


Benjamim é como a impressão em papel de um flash back de cinema na vida vazia de um modelo fotográfico em decadência e fixado em sua cumplicidade involuntária na execução política da mulher que amara na juventude. Os ingredientes de uma tragédia potencial se transformam em uma sucessão de trivialidades. Com a recusa da narração em ser sujeito, sobram somente seres sem ligação valorativa com as circunstâncias histórico-sociais do assassinato de Castana Beatriz. A psicologia do personagem-título aparece na condição de postulado temático, não como drama. Casualmente, surge Ariela, cujos traços físicos são a senha para um mergulho no passado longínquo. Não há concessões: a moça pode ser a desaparecida filha de Castana ou simplesmente o aflorar da obsessão. Nem a dúvida elementar possui termos de resolução na peça mais dissonante do autor, quem sabe a sua única incursão atonal.

O acento exclusivo no cotidiano e no fatual, mesmo tratando-se de impressões, conduz ao extremo de pretender-se um ambiente utópico (não-lugar), onde a trama se desenvolve. Sendo a morte do sujeito pensável, mas não praticável, surgem, aqui e acolá, pérolas de inconfidência humana. É como se os deslizes fossem tecendo a malha da bela e impessoalíssima poesia. Os nomes de pessoas e acidentes da geografia urbana traçam o primeiro limite: é uma cidade ibero-americana. Logo depois, luso-americana, "com certeza". Mais ainda: houve um regime repressivo e sumárias execuções de opositores políticos. E se multiplicam pistas involuntárias, que a cultura do romancista proibiu sem que a decisão estilística conseguisse apagar: o centro perto do cais; o leite do tipo "b"; alusões a um português que teria passado pela Sumatra; pães doces, de coco e de creme; praias com ilhas que talvez não sejam tão próximas como se pretendeu e turmas de vôlei; o político trambiqueiro do subúrbio; a equipe chamada Ultrapão. A desafiar o segredo-de-Polichinelo, as supremas ruínas do impessoal nos pequenos e mortais deslizes. Onde as "águas de março" e o carnaval convivem com preconceitos do tipo "morar no subúrbio" e o mau gosto de comer "pizza com ketchup"? No Rio, a cujos infortúnios, encantos e valores ninguém consegue ficar indiferente!

Trata-se de um livro surpreendente. Não que tenha um desfecho capaz de permanecer incógnito perante a trama para depois se impor, a título de revelação, ao leitor fascinado pelo inusitado: ao contrário, há um final mais do que anunciado já no primeiro parágrafo, na própria lógica e depois a conta-gotas em cada detalhe. Também não é um inesperado raio no céu azul de uma obra. Chico Buarque produziu canções impensáveis sem a palavra, o que faz do escritor a continuidade do músico. Sendo compositor popular, esteve sempre mais perto de oratórios, cantatas, óperas e lieds do que de arquiteturas do tipo abstrato e absoluto, como as sinfonias de Brahms, onde impera incontesti o discurso do som. Tal opção foi radicalizada nas operetas Roda Viva (1968), Calabar ou O Elogio da Traição (1973), Gota d'Água (1975) e Ópera do Malandro (1978), criadas solitariamente ou em parceria. Sem falar nas incursões pelo mundo silencioso da escrita: Fazenda Modelo, novela de 1974, e o comentado Estorvo, romance também publicado pela Companhia das Letras e best-seller de vendas com duzentos mil exemplares.

A surpresa provocada por Benjamim é de outra natureza. Reside, como frisam os editores, na condição de "um dos romances mais originais da literatura brasileira recente". Talvez seja mais fácil compor seu perfil pelas negativas que suscita. Nada tem de romântico: por mais que se o esquadrinhe, jamais se achará um resquício do herói cheio de virtudes ou mesmo da tipologia densa em termos de valores, para o bem ou para o mal. Contrastando com seu livro anterior, escrito na primeira pessoa, carece de lugar para os "eus". A própria narrativa é impessoal, inquietantemente fria, distante, objetiva, acética e incisiva como bisturis a cortar tumores que, não obstante, contra quaisquer previsões plausíveis, sempre foram e continuarão secos.

Falou-se muito do hermetismo do Estorvo, que transpirava uma subjetividade à flor da pele. Benjamim, ao contrário, não poderia ter semelhante característica: Embora se reivindique "do início ao fim (...) um filme", nada terá que possa brotar de um diretor, nem mesmo a introspeção e o desejo de mistério. Uma câmera robotizada persegue a utopia de uma obra pretensamente sem autoria e personagens – ou quase –, de uma crônica sobre sombras que só se movimentam porque o mundo é imanentemente um devir perpétuo. Tal propósito, inatingido, desvela, felizmente, o fracasso da intenção: não por falta de talento, mas por impossibilidade ontológica nas manifestações artísticas. O pretenso assujeitamento é, assim, menos a consciente opção filosófica do que fruto de uma transbordante sensibilidade imersa no mundo póstero, este universo em que aparentemente – apenas no âmbito fenomênico, portanto – teriam sido superadas de roldão as ideologias, os valores, a história e a própria totalidade, soterrados pelo individualismo esquizofrênico e o devenir do absurdo vertido ao senso comum. É o mais contemporâneo episódio de Fazenda Modelo: igualmente inspirado em Owen, mas recriado na cultura pós-moderna da sociedade burguesa deste fim de milênio e no ambiente brasileiro da hegemonia passiva, que afinal invadem a interioridade permeável do artista e confere uma singularidade à sua hostilidade ao politicismo e à pieguice.

Neste sentido, há uma coerência espantosa com a obra musical do autor. Suas canções, obviamente românticas na partitura, contrastam, em tensão permanente, com a solução poética das letras, não raro trabalhadas na reutilização e na fruição da forma: uma insistente rima tônica pelo acento na proparoxítona, em Construção; a provocação daquele olhar sem drama de Mulheres de Atenas, com Augusto Boal; uma significativa opção por verter para o Português uma crônica impessoal, em Minha História (Gesubambino); a incursão antropológico-estética com Rui Guerra, em Fado Tropical; uma colagem fatual em PaRaToDos; a evocação de Medéia, em Gota d'Água, e de A Ópera dos Três Vinténs, na Ópera do Malandro. Contudo, agora, em Benjamim, a poética se desvencilhou do mundo sonoro e ambiciona também fazê-lo do conteúdo, logo, de quaisquer suportes do romântico, para satisfazer-se unicamente com os significantes literários. Eis que o neoclassicismo, busca insistentemente aflorada na trajetória do autor, afirma-se por inteiro. Só que o gozo da maneira de criar se tornou refém do cotidiano, âncora irremovível do texto.

Eis o parâmetro estético do "filme" que vem à mente do personagem central, desenrolando-se inicialmente na câmara lenta de sua mente apática e diante da morte chegante, ao final cada vez mais freneticamente, às vistas do leitor estupefato pela vertigem do vazio. É preciso respirar e ler numa progressão geométrica de ritmo: da lentidão decrescente à rapidez crescente. Assim pede – ou melhor, dita – o romance de consagração do escritor Chico Buarque. No deserto da trivialidade, fica estranhamente destacada uma forte alegoria: Benjamim pode bem ser o brasileiro genérico, prostrado e sem saída na espiral de violência bifacial: na geração passada, o massacre político do terrorismo estatal; hoje, os esquadrões da morte associados ao crime organizado. Mas sob a forma de poesia pura. Os juízos de valor ficam para os leitores. Como se o escritor não tivesse tido escolhas...


Caro Leitor, esperamos que a leitura desta resenha, pertencente à Revista Práxis número 6, Janeiro de 1996, tenha sido proveitosa e agradável.

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