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| Resenha:LOUREIRO, Isabel Maria Rosa Luxemburg: Os Dilemas da Ação RevolucionáriaApresentação: Michael Löwy São Paulo, Ed. UNESP, 1995. 197 págs. | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
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Golbery Lessa
Golbery_Lessa@revistapraxis.cjb.net
Graduado em História pela Universidade Federal de Alagoas, UFAl, membro da Editoria da Revista Práxis.
A importância desse livro reside no fato de ser uma séria tentativa de atualizar a nossa percepção sobre a obra de Rosa Luxemburg, autora que ainda é uma das principais referências para o movimento socialista. Por todo o livro , Isabel Maria Loureiro procura prestar contas com a sua própria visão anterior de Rosa, como ela mesma afirma, marcada pelo romantismo. Nesse intento, brinda-nos com um rico e sofisticado painel reflexivo. A autora procura ampliar ao máximo o seu campo bibliográfico, nunca deixando de analisar os principais autores que divergem da sua perspectiva sobre as questões relevantes: recolhe e analisa criticamente as opiniões sobre a revolucionária alemã em todo o gradiente político-ideológico. Aparecem, com destaque, o jovem Lukács e a historiografia da década de sessenta e setenta referente à Primeira Guerra e à revolução na Alemanha.
O fio condutor da sua análise é a concepção luxemburguiana sobre as relações entre objetividade e subjetividade, massa e vanguarda, liberdade e necessidade. A autora procura expor a particular interpretação do marxismo feita por Rosa e os desenvolvimentos que esta lhe teria trazido, relaciona-os com a sua convicção relativa à democracia socialista, ao "poder criativo das massas" e à sua concepção singular sobre partido, mostra como esse arcabouço teórico balançou e se reergueu com a traição do Segunda Internacional e com o apoio do proletariado europeu à guerra e, por fim, coloca como as idéias de Rosa, diante da revolução alemã, demostraram tanto a sua força quanto as suas insuficiências.
A autora procura defender a revolucionária alemã da acusação de dogmatismo e de voluntarismo político inconseqüente. Os críticos afirmariam que, nas principais obras de Luxembug, A Acumulação de Capital e Anticrítica, existiria, inegavelmente, a noção de que o colapso do capitalismo seria uma necessidade histórica inelutável. Daria-se como se fosse a necessidade de uma lei natural, o que demonstraria, cabalmente, o mecanicismo de Rosa, a sua minimização do papel da subjetividade na história, atitude típica dos integrantes da Segunda Internacional. Por outro lado, isso levaria a um fulgurante voluntarismo político e a uma apaixonada e romântica crença nas massas revolucionárias. Loureiro defende Luxemburg, afirmando que não havia propriamente dogmatismo em seu pensamento, mas uma tensão entre a necessidade inelutável da história realizar-se e a necessidade da "ação revolucionária" para realizá-la, entre as tendências históricas incontornáveis, que levariam o capitalismo ao colapso, e a indispensável luta da classe trabalhadora para realizar, por si mesma, essas "leis de bronze" superadoras da sociedade burguesa. Mesmo não resolvendo inteiramente tal tensão, tal ambigüidade, que, na verdade, estaria na própria obra do fundador do materialismo dialético, a spartakista daria um passo enorme nesse sentido, com a introdução do conceito de "criatividade revolucionária das massas". O que, em outras palavras, significa que a subjetividade, para Rosa, atuaria na história por meio da autoconscientização das massas, do auto-esclarecimento tanto do proletariado da indústria como dos oprimidos em geral. A subjetividade realizadora da história seria aquela imediatamente colada à prática revolucionária das massas, seria o "instinto revolucionário" que, numa relação dialética com a prática, iria transformando-se progressivamente em racionalidade plena, em consciência de classe. Essa noção estaria de acordo com o espírito do fundador do socialismo científico, na medida em que, também para Marx, objetividade e subjetividade fariam parte de uma mesma totalidade social, estariam sempre em unidade indissolúvel. A subjetividade, a liberdade e até o acaso estariam, assim, contemplados na concepção de Luxemburg. Teria sido essa base teórica que possibilitou à Rosa uma crítica extremamente lúcida tanto da social-democracia quanto do bolchevismo, no que se relacionava à tática, à democracia e à concepção de partido. No que se referia à tática, sublinhou corretamente a importância capital da greve de massas e dos impulsos de base em geral. Sobre a democracia, afirmou que, sem liberdade política radical, as massas não têm condições de desenvolver a sua criatividade revolucionária e concretizar a sociedade socialista; em decorrência, o partido revolucionário deveria ser apenas o "porta-voz" da classe trabalhadora, e não o professor autoritário que viria impor às massas a sua verdade.
Rosa não seria nem defensora de uma democracia abstrata, no estilo liberal, nem uma seguidora dos princípios de Lênin. Teria trilhado um caminho particular, uma terceira via, grávida de desenvolvimentos futuros generosos. Desprezava tanto o fetichismo da "maioria parlamentar", típico da social-democracia alemã, quanto as soluções autoritárias dadas pelos bolcheviques às questões relativas ao relacionamento político entre as massas e o partido. Porém, não se poderia adjetivá-la de antibolchevique, na medida em que estava de acordo com a apreciação de Lênin e Trotsky sobre a natureza essencial da Revolução Russa. Essa vereda política luxemburguiana deveria a sua generosidade teórica à solução bastante avançada do problema da relação entre subjetividade e objetividade. Por outro lado, no entanto, não demonstrou ser correta o suficiente para o enfrentamento coerente da complexa conjuntura representada pela revolução alemã de 1919. Nesse momento crucial de sua vida, Rosa teria agido ambigüamente. Por um lado, permaneceu firme na defesa de que somente as massas, por si mesmas, poderiam realizar a revolução alemã, a partir das suas próprias decisões, do seu próprio auto-esclarecimento e do seus métodos específicos. Por outro, liderou a Liga Spartakista, a qual tinha uma acentuada coloração vanguardista. Luxemburg teria compactuado com as palavras de ordem aventureiras da extrema-esquerda alemã, as quais precipitaram a derrota das massas. Na realidade, essa atitude deve ser explicada tanto pela mencionada tensão essencial, sempre presente no pensamento de Rosa, como pela conjuntura particularmente adversa e complexa: o momento era de tal maneira trágico e intrincado que Rosa deixou enfraquecer a sua convicção antiblanquista, anti-esquerdista. Principalmente o seu compromisso ético com o proletariado a teria feito negar, durante a revolução alemã, seus próprios fundamentos teóricos.
A partir das perspectivas de Lukács, Lênin e Trotsky, não se pode concordar com os pressupostos e as conclusões de Loureiro. Porém, de nenhum ponto de vista se poderá negar que o seu livro se constitui num valioso instrumento para aqueles que desejarem compreender a vida e a obra de Rosa Luxemburg.
Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, pertencente à Revista Práxis número 5, Outubro de 1995, tenha sido proveitosa e agradável. Caso se interesse pelo livro 'Rosa Luxemburg: Os Dilemas da Ação Revolucionária', de Isabel Maria Loureiro, entre em contato conosco. Obrigado.
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