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| Resenha:FREDERICO, Celso O Jovem Marx: as Origens da Ontologia do Ser SocialSão Paulo, Ed. Cortez, 1995. 212 págs. | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
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Sergio Lessa
Sergio_Lessa@revistapraxis.cjb.net
Professor da Universidade Federal de Alagoas e membro das editorias das revistas Crítica Marxista e Práxis.
Desde o Origens da Dialética do Trabalho, de Giannotti, não é publicado em nosso país um texto de tamanha qualidade dedicado aos primeiros escritos de Marx. Tal como o de Giannotti, Celso Frederico trabalha a tensão entre Feuerbach e Hegel, que permeia os primeiros escritos marxianos. Há, contudo, uma diferença fundamental. Enquanto Giannotti faz uma leitura que despolitiza o jovem Marx, ao desarticular política e filosofia, detendo-se fundamentalmente nesta, O jovem Marx: as origens da ontologia do ser social parte da indissociabilidade entre o aspecto político e o filosófico do pensamento marxiano, podendo assim trabalhar a tensão entre essas duas esferas, que percorre não só os textos anteriores ao Ideologia Alemã, mas toda a sua obra.
Particularmente instigante é o tratamento que Celso Frederico dedica às raízes feuerbachinas presentes nos escritos de juventude de Marx. Um verdadeiro trabalho arqueológico é realizado nos textos uma análise imanente da melhor qualidade , desvelando articulações e nuances surpreendentes entre Feuerbach e Marx. E o desvelamento, por Celso Frederico, dessas articulações e nuances, tensionadas sempre pelo percurso de Marx em direção à uma ontologia dialético-materialista do ser social, e pela complexa relação com Hegel, é um dos aspectos mais apaixonantes do livro. Vale salientar, em especial, a análise de Celso Frederico da passagem de 1843 a 1844 um texto empolgante.
Um texto de tal qualidade, e com esta temática, necessariamente é polêmico. Dois pontos a esse respeito.
O primeiro deles é a avaliação que Celso Frederico faz das Glosas Críticas... e da concepção negativa do político ali delineada por Marx. Esse texto, bem como o estatuto da política no Marx da juventude, transformaram-se, desde 1982, com a intervenção de I. Mészáros, em motivo de polêmica entre os marxistas. Duas posições surgiram: aqueles que valoram positivamente a concepção negativa da política em Marx, tal como delineada já em 1843, e uma outra opinião segundo a qual Marx, por pensar a política como uma mediação apenas alienada, não pôde desenvolver uma concepção positiva da política e do Estado, não tendo por isso condições de pensar estas duas esferas com a profundidade e a extensão necessárias.
Parece-nos que o livro poderia ter explorado mais a fundo tal debate, explicitando mais claramente as razões pelas quais, em alguns momentos, o autor se aproxima da segunda posição.
Talvez o texto também pudesse, principalmente em sua última parte, explorar um pouco mais as questões especificamente ontológicas. É sabido que a ontologia marxiana do ser social considera a categoria trabalho o momento fundante do mundo dos homens. Por isso, é absolutamente correto, como o faz Celso Frederico, considerar que o momento inicial desta ontologia ocorre quando Marx, em 1844, ao voltar-se ao estudo da economia política clássica, descobre o caráter fundante do trabalho para o ser social. O movimento que, iniciado em 1843, conduz Marx à tal descoberta, é explorado com rara competência pelo autor.
Contudo, ao lado dessa descoberta, Marx dá passos significativos, já em 1844, para um tratamento original de categorias como essência, fenômeno e continuidade, para ficarmos apenas em algumas. Naquele momento já podem ser encontrados, ainda que in nuce e através de um certo esforço de "escavação arqueológica", indícios da descoberta que, segundo Lukács, possibilitou a Marx delinear uma ontologia radicalmente histórica: a diferenciação entre as categorias essência e fenômeno a partir da peculiar relação que cada uma delas mantêm com a continuidade. A discussão desse e de outros temas, especificamente ontológicos, talvez permitisse uma ancoragem mais ampla no enorme significado da descoberta do caráter fundante do trabalho por Marx. E, por outro lado, a exploração desse terreno especificamente ontológico certamente possibilitaria uma investigação mais circunstanciada da ruptura de Marx com Feuerbach.
Além da qualidade teórica de O Jovem Marx..., alguns aspectos formais devem ser salientados. O texto é de uma clareza exemplar. As questões mais complexas são tratadas de modo aprofundado, as mediações e nuances são exploradas em seus diversos aspectos e com a sutileza necessária e ainda assim mesmo o leitor menos informado conseguirá lê-lo e tirar enorme quantidade de informações.
Provavelmente tenha contribuído para a clareza o fato de o trabalho de Celso Frederico transpirar maturidade em cada letra: é visivelmente um trabalho maturado e sedimentado por anos de convivência e conflito com o tema. Enfim, um texto apaixonante e indispensável: um guia seguro para os que primeiro se aventuram no tema, e instigante para os estudiosos da obra de Marx.
Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, pertencente à Revista Práxis número 5, Outubro de 1995, tenha sido proveitosa e agradável. Caso deseje adquirir o livro 'O Jovem Marx: as Origens da Ontologia do Ser Social', de Celso Frederico, entre em contato conosco. Obrigado.
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