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| POESIA | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() |
Joana D'Arc Gouvêa
Joana_DArc_Gouvea@revistapraxis.cjb.net
Advogada e militante do Partido dos Trabalhadores em Juiz de Fora, MG, Brasil.
Existe, nas montanhas do sudeste mexicano, um grupo de cavaleiros altivos,
romanceiros latinos que impunham a metralhadora e a poesia. São, quem sabe,
quixotes iluminados, carregando a flor prometida que desabrocha a revelia do
vento norte, espalhando perfume nestas terras desertas de soberania. Esses
mascarados, que cobrem o rosto para que o mundo os perceba, parecem arquetipos
arqueológicos, mistura genética de Anthualpa, Montezuma, Jose Martí,
San Martin, Bolívar, Pancho Villa e todos os negros de todas as bahias, zumbis
redivivos, símbolos de um continente ideologicamente não-conquistado, choros de
incas esquecidos, indios apaixonados. O porta-voz e líder desses guerrilheiros
responde por Marcos. Quanto não terão tais homens acumulado de salitre, de
petróleo, de cana-de-açúcar, do ouro puro que saiu das veias desta terra, de
café, da grandeza de nosso eterno Zapata imolado, que pressentiu nosso destino
denso, avermelhado, e também desta prometida flor de jornais e pólvora, com a
qual nos presentearam com um pedacinho infinito com que enfeitei meus cabelos e
me pus a dançar, enternecida? Danço para comemorar o que é, nos índios de
Chiapas, a antítese do horror americano, da qual fizeram Marcos o símbolo.
Comemoro os índios que falam, através de Marcos, da brava serenidade das
florestas. Comemoro porque sabem a fala dos deuses (nas brilhantes manhãs dos
Andes, no serrado brasileiro, no mágico estio do centro-norte, na densa
fertilidade das florestas) e os deuses dizem que, depois da milésima lua,
renascerá o hino da América glória. Naveguem, portanto, resolutos, em seus
corcéis de prata, e, em cada consciência latina, pela voz de Marcos, continuem
a bradar o grito dos americanos. Nossa brava América bem sabe que cada grão
deste sonho de livre determinação germina intacto, e este intrépido desejo
faz-se, por vezes, coletivo. Nossa América pode estar ordenando agora, por
todos nós, pelos lábios cobertos de Marcos: avante Neruda! à frente Federico
Garcia Lorca! atento Castro Alves! À luta doces poetas libertários, pois que os
navios negreiros de hoje trazem o império do mercado e exportam nossa
felicidade, nossa soberania. E é preciso que, então, façamos da dor à força,
porque nossa soberania deve ser tão grande quanto nossa América e nenhum
Pinochet, nenhum Garrastazu, nenhum império do norte ou do sol nascente,
maculará a possível "utopia" socialista, o coração anatomicamente inclinado à
esquerda e o pulsar da medula mesma, inscrita na face encoberta de tantos
séculos de agonia, enquanto os verdadeiros mascarados têm a face nua. Teu
consolo, Marcos, é que, quando repousas na noite, esgotado e limpo, combinas
com teus pares essa reunião noturna, e escutam, todos, nossa voz. E somos
anciãos insones, mulheres precocemente velhas, crianças famintas, trabalhadores
sem pão. Navegamos, todos, em silenciosa passeata por teus sonhos, tantos
soldados junto à algazarra dos ruidos da floresta, porque na América ainda há
florestas, e entoamos juntos um refrão de luz: América feliz, uma só bandeira, um só país.
América Latina
E
strelas, galáxias, nuvens de mistério,
Acenderam, no etéreo, a aventura.
Homens iluminados,
Potente é o enigma do desconhecido,
Puseram-se a caminho.
E, rastreando o mar,
Formaram trilhas de enormes descobertas.Assim nos encontraram:
Pés nús sobre a areia fina,
Peles vermelhas,
Imensas palmeiras,
Cordilheiras de esperança.Diziam as lendas
Que viriam pelo mar, os nossos deuses.
E eram centauros,
Hércules de sabedoria e força,
De rituais exóticos,
Nas mãos, a mágica.
Assim os recebemos:
graves, perplexos, felizes.
Anjos ou demônios?
Pois dos seus olhos, que brilho!
Que fulgor sobre nossas aldeias encantadas,
nossos totens e trilhas!E eles aqui se detiveram.
Ainda se dizem deuses,
Mas nem o tempo, a história,
os fragmentos de memória,
abrandaram sua fúria.Séculos e séculos, este imenso pesadêlo:
Toneladas de miséria,
Uma infinidade de lixo, dor e cativeiro,
E estas cabeças que já não se erguem,
Este passo incerto,
Esta melancolia.Ai, América Latina,
Era preciso acender a euforia,
A sede de prazer e alegria,
A fome de vencer os desafios,
Cansar de ser infeliz, pobre, sujo, periférico,
Explodir em luz as bandeiras do hemisfério,
E expulsar os vendilhões do nosso templo.Joana D'Arc.
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