=================================== Data: 22/04/2001 ----------------------------------- Caro colega, Eu sou estudante de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e estou finalizando meu curso. Estou muito interessado na discussão sobre a questão do trabalho. Discussão que me despertou, depois de algum tempo fazendo militância política "dogmática", os escritos do Grupo KRISIS, que você deve conhecer, grupo alemão mais conhecido no Brasil pelos escritos de Robert Kurz - O Colapso da Modernização e O Retorno do Potemkin -e pelo Manifesto contra o Trabalho. A crítica que esse grupo realiza, diferente do que muitos os acusam, não é uma crítica reformista - o reformismo nunca é crítico, não é? - e esses pensadores estão pouco preocupados com esse tipo de adjetivação - além de que a luta entre reforma e revolução já deveria há muito ter sido lançado para a história, mas nossos colegas militantes vivem realizando um reencarnação de categorias ultrapassadas sem levar em consideração aquela velha frase do Marx de que a história só se repete enquanto farsa. Bem, a tese principal do grupo é de que não se pode pensar uma sociedade de homens livres - a sociedade do governo das coisas, não dos homens - sem que seja eliminado o trabalho. Não é uma questão meramente conceitual - como por exemplo o Ricardo Antunes têm interpretado - na verdade o grupo Krisis, depois de vinte anos de estudo e discussão, chegou a conclusão de que o movimento de supressão da sociedade produtora de mercadorias deve ser um movimento que supere o trabalho em sua forma concreta e abstrata - porque trabalho já é, por si só, abstrato, segundo a concepção deles. Acho que a crítica deles é extremamente rejuvenescedora para uma crítica radical à sociedade, só que também, por sua própria profundidade, é extremamente polêmica. Como meu período de militantismo já passou e com ele o dogmatismo e o praticismo que você ressalta, estou aprofundando meus estudos sobre a questão do trabalho. Não é, como poderia se supor, uma motivação acadêmica; na verdade minha monografia de final de curso tangencia muito superficialmente a questão do trabalho. Minha preocupação é realizar uma compreensão mais profunda da sociedade atual e para isso a contribuição do Krisis tem sido enorme, mas não é meu desejo substituir um conjunto fechado de teses - o leninismo, o maoísmo etc. - e substituir por outro conjunto - o krisismo, ou kurzismo, ou seja lá o que for. Em virtude disso eu estou realizando também uma crítica ao grupo Krisis e isso está me levando a um estudo de todos o grandes pensadores que refletiram sobre o trabalho: Adam Smith, Ricardo, Hegel, Marx, Lafargue, Durkheim, Max Weber, Veblen, Lukács, Erich Fromm, Marcuse, Giannotti, Ricardo Antunes etc. O que me motiva a enviar este e-mail é tentar aumentar o meu horizonte de diálogo, encontrando outras pessoas - além das poucas que eu tenho contato na universidade e que com elas organizo um grupo de estudo sobre o grupo Krisis - que pensem diretamente sobre este assunto. Você é uma das que eu estou procurando com esse interesse, que é discutir sobre a categoria trabalho e sua necessidade ou não de permanência para o homem - aquela velha discussão se o trabalho é histórico ou ontológico, além de obviamente procurar aprender, pois pouco ainda sei sobre o assunto. Um outro motivo que me levou a tentar essa comunicação é o interesse que eu tenho pelos textos de Lukács e que infelizmente os mais importantes para os meus objetivos encontram-se em italiano, e como você fez referência à possibilidade de se obter uma tradução num texto da Revista Práxis eu então pediria que você me informasse se é possível enviar por meios eletrônicos uma cópia disso. Eu tenho interesse também em conhecer a sua tese de doutorado, já que trata diretamente do assunto que eu estou estudando. Fica também o pedido para uma cópia dela. Se não for possível a cópia por meios eletrônicos eu pediria informações sobre como conseguir isso por outros meios, já que infelizmente a distância entre nós dois é grande. Fica desde já o aviso de que qualquer cópia seria respeitada no tocante aos direitos de autoria. Desde já um grande agradecimento e a certeza de poder abrir um diálogo - um tanto prejudicado pelos meios eletrônicos, mas de qualquer forma um diálogo. Maurílio (por e-mail) ===================================
Néliton Azevedo, Editor,
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