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Resenha:

ASH, Timothy Garton

Nós o Povo

Revolução de 1989 em Varsóvia, Budapeste, Berlim e Praga

Ed. Companhia das Letras, São Paulo, 1990, 168 págs.

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Lincoln Secco
Lincoln_Secco@revistapraxis.cjb.net

Pós-graduado em História Econômica pela USP, São Paulo, coordenador do Núcleo de Estudos de 'O Capital' do Partido dos Trabalhadores/São Paulo. Membro da Editoria da Revista Práxis.


O historiador britânico Timothy Garton Ash é um especialista naquilo que se convencionou chamar (nem sempre acertadamente) de Leste Europeu. Em 1989, quando uma série de movimentos sociais de massas, ocorridos em Varsóvia, Budapeste, Berlim e Praga, derrubaram as ditaduras dos "partidos comunistas", Ash estava lá como testemunha ocular. Logo no início de 1990, escreveu o livro We The People (que são as palavras iniciais da constituição norte-americana), traduzido no mesmo ano para o português. Cerca de oito anos depois, a obra ficou rapidamente datada em algumas reflexões, embora preserve a acuidade da análise. O que mais interessa hoje, porém, é cotejar os vaticínios daquela obra com a evolução da história política dos países "ex-comunistas" nos anos noventa.

Ash colocava-se numa dupla perspectiva: a de historiador e testemunha. A testemunha é inevitavelmente parcial, porque só enxerga os fatos que conseguiu observar, diretamente ou através dos meios de comunicação, e costuma dar relevância desmedida àqueles acontecimentos que viveu; obviamente o faz dessa forma não por uma vontade malévola, mas pelo simples fato de que só pode estar num único lugar a cada momento. O historiador, ao contrário, pode estar em dois ou mais lugares num único momento (no sentido figurado, evidentemente) porque investiga diversos testemunhos, várias fontes documentais e pode tentar recompor a totalidade do processo histórico (esse é um ideal, evidentemente inatingível na sua completude). É claro que a testemunha tem a vantagem de poder narrar atitudes e fatos que às vezes não foram registrados. Dessa forma, pode-se dizer que Ash tenta impor-se simultaneamente como observador e participante dos acontecimentos narrados em seu livro, utilizando as vantagens das duas condições.

O objeto de pesquisa do livro é abrangente, pois engloba quatro países: Polônia, Hungria, Alemanha e Tchecoslováquia. O autor fala desde o socialismo des-nacionalizado, que foi produto de uma cisão na consciência nacional alemã, até o socialismo oriental imposto ao mais ocidental dos países da Europa Central: Tchecoslováquia. Não chega a analisar o "socialismo em uma só família" (Romênia) porque não observou diretamente a Revolução Romena.

Aqui cabe uma ponderação marginal: poder-se-ia falar realmente no termo revolução para caracterizar o fim do socialismo real? Não estaria o termo revolução associado historicamente a um certo fetichismo da violência?

"Ninguém hesitou em chamar o que ocorreu na Romênia de 'revolução'. Afinal de contas, parecia mesmo uma: multidões iradas nas ruas, tanques, palácios do governo em chamas, o ditador posto contra um muro e fuzilado. No entanto, é uma questão séria saber se o que aconteceu na Polônia, na Hungria, na Bulgária e até mesmo na Tchecoslováquia pode ser chamado de 'revolução', a menos que o termo seja usado de modo bastante pouco rigoroso. Essa dúvida foi colocada por diversos intelectuais nos países em questão. Será que esses movimentos populares – que, por mais espontâneos, de massa e eficazes, foram quase inteiramente não-violentos – podem ser realmente descritos por uma palavra tão intimamente associada à violência? Contudo, a mudança de governo, ou melhor, de vida, que ocorreu nesses países dificilmente pode ser considerada menos profunda do que a que houve na Romênia. Por uma mistura de protesto popular e negociações das elites, prisioneiros tornaram-se primeiros-ministros e primeiros-ministros tornaram-se prisioneiros". (p. 22).

Timothy Ash tem razão ao dissociar o conceito de revolução do fetiche acontecimental, da relevância dada somente aos fatos supostamente heróicos. Ora, uma revolução não se confunde com um ato (a queda da Bastilha, a tomada do Palácio de Inverno), mas como um processo que pode ou não ser acompanhado da violência das armas e que, invariavelmente, traz em seu bojo um conjunto de reformas estruturais assinaladas por mudanças significativas no leme político de uma nação. Caso contrário, como se poderia nomear a Revolução Gloriosa de 1688 na Inglaterra?

Na Polônia, uma série de fatos marcou o início da superação do stalinismo: o surgimento da contestação sindical nos estaleiros de Gdanski, expresso no sindicato "Solidariedade" e na liderança carismática de Lech Walesa, o golpe militar de 1981, a imposição da lei marcial e a oposição católica demonstraram que um dos regimes mais violentos do Leste Europeu estava em crise. Com aprofundamento da glasnost (transparência ou abertura) de Mikhail Gorbatchev na antiga União Soviética e da crise econômica polonesa (inflação e recessão), os protestos populares se avolumaram, o solidariedade se reorganizou e a ditadura militar do general Jaruzelski foi obrigada a negociar e aceitar eleições semi-livres (em que uma parte do parlamento ainda seria reservada aos comunistas). Mas em junho de 1989, as eleições deram uma vitória tão esmagadora ao solidariedade que o sistema todo ruiu e os burocratas começaram a ser varridos das posições-chave do país.

Se na Polônia foi uma eleição, na Hungria foi um funeral que derrubou os comunistas. No mesmo mês de junho de 1989, uma multidão de milhões de pessoas, depois de vários protestos, conseguiu permisão para enterrar o herói da resistência anti-soviética de 1956: Imre Nagy, deposto, julgado e executado por se opor ao stalinismo. O líder dos protestos não foi um partido, mas o Comitê pela Justiça Histórica que, aos poucos, tornou-se porta-voz da oposição, levando o regime comunista húngaro ao fim.

Berlim, novembro de 1989. Depois de inúmeras fugas em massa da população da Alemanha Oriental pela fronteira tcheca, rumo à Áustria, a população de Berlim Oriental adquiriu coragem suficiente para derrubar o "muro da vergonha", construído em 1961 para impedir que os habitantes da República Democrática Alemã fossem contaminados pela poluição ideológica do consumo capitalista. Depois que Gorbatchev visitou o país no mês de outubro e garantiu que as tropas soviéticas instaladas ali não interviriam para reprimir nenhuma manifestação popular, tudo mudou: o ditador Honecker foi destituído pelo seu próprio partido (PSUA – Partido Socialista Unificado da Alemanha) e as pessoas nas ruas simplesmente começaram a derrubar o muro de Berlim com as próprias mãos. Dois milhões de alemães orientais invadiram Berlim Ocidental. Os líderes dos protestos, que a princípio imaginavam apenas democratizar o lado alemão oriental, foram ultrapassados pela reivindicação popular de reunificação com a República Federal da Alemanha.

Em Praga, na parte tcheca da então República Socialista da Tchecoslováquia, a Revolução de Veludo teve o seu quartel-general num teatro. Atores, estudantes, dramaturgos, historiadores, economistas e operários faziam parte do Fórum Cívico, organização de oposição ao governo liderada pelo carismático escritor Vaclav Havel. Faziam parte do Fórum, de trotskistas e comunistas reformistas até sociais-democratas e liberais (como os economistas do grupo que eram seguidores do liberalismo econômico de Hayek e Friedmann). As gigantescas manifestações populares no centro de Praga ovacionavam as figuras de Havel e do líder comunista destituído pelos soviéticos em 1968: Alexander Dubcek. Feitas as negociações com as autoridades, foi formado um governo de coalizão que pôs fim à ditadura e à economia planificada. Ex-prisioneiros e intelectuais perseguidos, por participarem do movimento de contestação conhecido por Carta 77, passaram rapidamente da condição de criminosos à de governantes do País.

Qual é o rumo das transformações ocorridas em 1989? Ash é um historiador liberal, que não esconde sequer a sua aversão ao fato de que as nações precisam às vezes passar por revoluções; por isso, norteia sua análise por valores que se coadunam ao liberalismo, ainda que procure ocultá-los sob o rótulo da "normalidade", categoria mais próxima da sociologia de Durkheim do que propriamente dos historiadores. Qual é o modelo perseguido pelo Leste Europeu e o mundo em geral, a partir de 1989?

"O mesmo modelo fundamental, ocidental e europeu: democracia parlamentar, domínio da lei, economia de mercado. (...) Não existe uma terceira via. Não é o socialismo de rosto humano. É a concepção de 'normalidade' que parece estar conquistando triunfantemente o mundo." (p. 115).

Depois de quase um decênio de transformações políticas nos países "ex-comunistas", a leitura dos fatos de 1989, feita por Ash no início de 1990, assume uma nova dimensão. É verdade que esses países não mais retrocederam aos seus regimes anteriores, como vaticinou Ash, mas certamente mudaram para direções inesperadas e nem sempre no espírito liberal. Na Polônia, um ex-comunista tornou-se presidente em eleições diretas, derrotando Walesa. Na Alemanha, o odiado PSUA desapareceu, mas seus integrantes compuseram uma tendência do novo PDS – Partido do Socialismo Democrático – um agrupamento de esquerda que tem obtido boas votações na parte leste do país. A República Tcheca e a Eslováquia se separaram e na Hungria um revigorado e reformado Partido Socialista Húngaro, formado pelos moderados do regime anterior, manteve uma forte presença na política do País. Na Rússia, o Partido Comunista domina o parlamento e quase teve seu líder eleito diretamente para a presidência da República.

Nada disso quer dizer que esses países caminharão de volta a algum tipo de socialismo, mas apenas que os rumos futuros são indecifráveis para os historiadores e dependem da ação concreta dos agentes políticos. Timothy Ash escreveu um bom relato dos acontecimentos de 1989, importante porque ainda são poucos os livros de História que tratam do tema de forma detalhada e aprofundada. Trata-se de um livro de leitura bastante agradável, mas que talvez permaneça no futuro mais pelas suas fraquezas do que pelas suas qualidades, mais como documento ideológico do que se pensou nos anos seguintes a 1989 do que como reconstituição daqueles processos revolucionários.

Ironicamente, Timothy Ash talvez permaneça mais como uma das principais testemunhas oculares do que como "o Historiador" das revoluções de 1989.


Caro Leitor, esperamos que a leitura desta resenha, publicada na Revista Práxis número 11, de Julho de 1998, tenha sido proveitosa e agradável.

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