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Resenha:

SILVA, Eduardo

Dom Obá II d'África, o Príncipe do Povo

Vida, Tempo e Pensamento de um Homem Livre de Cor

São Paulo, Ed. Companhia das Letras, 1997.

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Mário Maestri
Mario_Maestri@revistapraxis.cjb.net

Membro do Coletivo de Sócios da Revista Práxis, doutor pelo Centro de História da África, Université Catholique de Louvain, Bélgica, e professor das Universidades de Caxias do Sul e de Passo Fundo.


Todos os sábados à tardinha, dom Pedro II aparecia na sala de audiência do palácio da Quinta da Boa Vista para conceder, aos súditos e eventuais visitantes, o privilégio senhorial do beija-mão. A documentação histórica registra a infinidade de nacionais e estrangeiros que ali acorriam para implorar a imperial atenção ou, simplesmente, aproximar-se da augusta pessoa.

No sábado 13 de outubro de 1883, entre os presentes à cerimônia, encontrava-se o alemão Carl von Koseritz, personagem conhecido da historiografia sulina. Jornalista, líder da colônia alemã gaúcha, defensor da pequena propriedade e do trabalho livre, ele apresentava-se, pela quarta vez, para curvar-se diante do soberano brasileiro. Ao registrar, em Imagens do Brasil (1885), a visita ao Imperador, Koseritz anotou a presença de um assíduo participante à cerimônia, o elegante alferes Cândido da Fonseca Galvão, conhecido também pelo título, autoconcedido, de dom Obá II d'África. Efetivamente, fizesse sol ou chovesse, o negro livre apresentava-se, todo santo sábado, de fraque, cartola, luvas e pince-nez de ouro, a beijar a imperial mão.

O historiador Eduardo Silva, da Casa Rui Barbosa, autor de uma importante obra sobre a cafeicultura escravista – Barões e Escravidão: Três Gerações de Fazendeiros e a Crise da Estrutura Escravista; Rio de Janeiro, Ed. Nova Fronteira, 1994 –, acaba de lançar, pela Companhia das Letras, um minucioso estudo sobre esse enigmático e popular personagem do fim do Império – Dom Obá II d´Africa, o príncipe do povo: vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor.

Durante séculos, a sociedade brasileira fora formada sobretudo por trabalhadores escravizados e proprietários de homens. Naquele então, as classes intermediárias eram raquíticas e as escassas populações livres e pobres, de todas as cores, apenas sobreviviam na asfixiante sociedade escravista. Com a Independência, mas sobretudo após a abolição do tráfico, em 1850, a realidade demográfica nacional modificou-se. Imigrantes europeus entraram pelos portos nacionais e, nos sertões e nas cidades, avolumou-se uma população de negros e mestiços livres que, nas periferias urbanas, subsistiam ao lado de cativos ganhadores que viviam da venda de seus produtos e serviços.

Pouco sabemos sobre as concepções de mundo, crenças e esperanças dessa população livre e pobre, de fortes raízes africanas. Tal realidade se deve, ao menos em parte, aos escassos traços documentais que essas comunidades deixaram. Num mundo em que ricos escravistas assinavam um x no lugar de seus nomes, eram raros os populares, sobretudo de origem africana, que dominavam realmente a esotérica arte de ler e escrever.

Cândido da Fonseca Galvão, filho de um liberto de nação ioruba, natural de Lençóis, na Bahia, talvez já soubesse ler e escrever quando, em 1865, arrolou-se livremente para ir lutar na campanha contra o Paraguai, de onde voltou, em meados do ano seguinte, devido a uma ferida na mão direita. Talvez a pronta promoção a alferes tenha sido devida a sua educação formal extraordinária. Após ter sido desligado por indisciplina da Companhia dos Inválidos da Bahia, em 1877, Cândido Galvão partiu para tentar a sorte na populosa cidade do Rio de Janeiro, por esses anos com uns trezentos mil habitantes. Quase nada sabemos sobre os seus primeiros tempos na capital imperial.

A campanha contra o Paraguai fora, por excelência, uma guerra da monarquia brasileira. A casa dos Braganças se envolvera profundamente no conflito, procurando dele retirar prestígio e soldar a fratura criada pela dissensão nacional em torno da escravidão. Por cinco anos, dom Pedro utilizou o confronto para nada empreender de efetivo em prol da libertação dos cativos, apesar da pressão do movimento emancipacionista nacional e internacional. Não se devia agitar o inimigo interno enquanto se combatia o inimigo externo, dizia-se.

As forças armadas nacionais haviam sido fortemente reduzidas, quando das Regências. Para suprir as necessidades de soldados, instituiu-se os corpos de Voluntários da Pátria. Dom Pedro arrolou-se como o primeiríssimo voluntário, pro forma, é claro, imediatamente após assinar o decreto que criava os batalhões. Os senhores alforriaram trabalhadores escravizados para substituírem os filhos convocados pelo Exército. A casa imperial libertou seus cativos quequisessem partir para a guerra. Milhares de populares foram arrolados à força e enviados ao Paraguai. Homens livres e pobres, como Cândido Galvão, sem alternativas de existência, optavam pela perigosa cartada militar.

Os jornais patrióticos paraguaios retratavam as tropas brasileiras como constituídas exclusivamente por soldados negros e a documentação histórica gaúcha registra quilombos sulinos formados por cativos e soldados desertores, durante o confronto. É ainda difícil dizer até que ponto a comunidade afro-brasileira sustentou com o seu sangue a terrível hecatombe do Paraguai. Voluntários da Pátria, que alcançaram a voltar com vida do confronto, e seus descendentes, passaram a reivindicar direitos dos quais se consideravam, com ou sem razão, merecedores. Como parte desse processo de mobilização pela obtenção do prometido, os veteranos incorporavam, na medida de suas compreensões, a retórica monárquica e patriótica propagandeada durante e após o conflito. Com eles nascia uma espécie de patriotismo popular.

Cândido Galvão seria homem de singulares dotes políticos. Usando sua posição de ex-veterano e de sub-oficial, aderindo ao monarquismo e ao Partido Conservador, autodesignando-se príncipe de um imaginário reino africano, conquistou a posição de representante informal de camadas populares das periferias do Rio de Janeiro, no momento em que a escravidão declinava. Eduardo Silva utiliza os artigos de Cândido Galvão, escritos em um português popular, para perquirir as concepções de mundo do alferes e, através delas, o mundo ideológico e as aspirações das classes populares da Corte, na época. Em seus artigos, Cândido Galvão defendia, entre outras idéias, a igualdade de brancos e negros, o fim da escravidão, a abolição do castigo físico no Exército e a importação de africanos livres para suprir as necessidades da cafeicultura, que sofria de grave escassez de braços escravos.

Eduardo Silva pergunta-se, igualmente, sobre as origens do "orçamento" de Cândido Galvão, que lhe permitiu, sem exercer atividade produtiva, sustentar uma família, vestir-se com apuro, viajar em carros de aluguel e publicar artigos pagos na grande imprensa. Parece difícil conceber que dom Obá II financiasse suas atividades e sobrevivência apenas com os recursos que eventualmente obtinha dos "súditos" de seu autodesignado império urbano – como sugeriam cronistas coevos aos fatos e como sugere o próprio autor. Novos documentos talvez esclareçam se o apoio financeiro acordado por Dom Pedro a Cândido Galvão tenha sido apenas episódico. Eduardo Silva assinala que, entre meados de 1882 e fins de 1884, o príncipe negro teria participado de 125 beija-mãos, recebido, no mínimo uma vez, a especial deferência de saudar a população da sacada do Palácio da Cidade, e publicado, em 86-7, 35 artigos na grande imprensa. Seria muito fraca a base social do império de dom Obá.

Com a queda da monarquia e de seu protetor, Cândido Galvão desaparece da imprensa e, segundo parece, não consegue nem mesmo honrar o pagamento do aluguel de sua residência. Mesmo não se comprovando o apoio econômico direto de Pedro II, Cândido Galvão parece ser mais um indício da paradoxal política de aliança que a monarquia ensaiou, nos anos oitenta do século passado, em direção à comunidade dos negros livres, no preciso momento em que jogava suas últimas cartadas na luta contra a abolição. Uma política que levaria, após o 13 de maio, à tentativa de mobilizar as Guardas Negras numa desesperada defesa do natimorto Terceiro Reinado.

Nesse sensível estudo da ideologia das classes populares do fim do Império, talvez apaixonado e envolvido pelo objeto de sua pesquisa, Eduardo Silva realiza uma leitura extremamente simpática, quase saudosa, da ordem monárquica, na qual a guerra contra o Paraguai surge quase como uma mobilização nacional em defesa da pátria ofendida. Em alguns momentos, o texto aproxima-se de uma retórica quase patriótica: "A guerra [do Paraguai] foi um tempo de autoridade e hierarquia, tanto quanto de companheirismo, de medo da morte e da alegria das vitórias, dividido por negros, brancos e miscigenados, juntos sob a mesma bandeira."


Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, pertencente à Revista Práxis número 11, de Julho de 1998, tenha sido proveitosa e agradável.

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