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Resenha:

CASTAÑEDA, Jorge G.

Che Guevara, a Vida em Vermelho

tradução: Joffily, B.

Ed. Companhia das Letras; São Paulo; 1997; 517 págs., ilustrado.

e

ANDERSON, Jon L.

Che Guevara, uma Biografia

tradução: Côrtes, M. H. C.

Ed. Objetiva; Rio de Janeiro; 1997; 920 págs.; ilustrado.

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Néliton Azevedo
Neliton_Azevedo@revistapraxis.cjb.net

Coordenador do Centro de Pesquisas em Desenvolvimento Energético para a América Latina, IRN/IAEA; membro da editoria da Revista Práxis.


Ernesto Che Guevara - (1928 - 1967)


'O herói de minha história [...] é a verdade', dizia Lev Tolstói. Ao término da leitura do livro A Utopia Desarmada de Jorge Castañeda, uma pergunta se impõe: é possível ao seu autor se tornar ainda mais conservador e mesmo assim se dizer representante da esquerda? A leitura do livro Che Guevara, a Vida em Vermelho nos dá a resposta: SIM. Para muitos de nós que temos acompanhado a evolução do pensamento do aluno de Princeton, é interessante notar como as suas idéias liberais tensionam seu pensamento e o afastam da social-democracia, seu ponto de origem.

No capítulo 1, referindo-se à captura e assassinato do Che, temos a frase: 'O Che aniquilado, [...] irreconhecível por seus amigos e adversários jamais teria despertado a simpatia e a admiração que a vítima de Vallegrande despertou.', castanhérica frase. O cadáver do Che foi preparado para ser fotografado e apresentado ao mundo como prêsa vencida, banhado, penteado e barbeado. Se não tivesse sido, para o autor, não teríamos o que admirar; admiramos imagens, religiosas imagens. Che, um homem que viveu e lutou toda a sua vida para que outros homens não vivessem de joelhos, é comparado ao Cristo. O autor nos dá duas únicas imagens possíveis, uma 'sombria e destroçada', outra a 'do Cristo', prevalecente. Che é identificado com a sua época, os anos 60, turbulenta, 'repleta de cólera e doçura', para o autor ambos estão encerrados. Perguntas: Não há Che na Guerra do Vietnan, em Giap? Na Unidad Popular chilena? No MPLA? Na Nicarágua sandinista? Em El Salvador? No Congo? Na Coréia do Sul? O autor nos diz que não, só há Che nas camisas t'shirt.

Na concepção de Castañeda, Che, idealista e aventureiro, 'partiu sempre de um critério: bastava desejar alguma coisa para que ela acontecesse'. Apontado como "símbolo de rebeldia e liberdade", a rebeldia conveniente e a liberdade tolerada, como Woodstock, cabelos compridos, calças jeans, marijuana e 'make love, don't war'. Castañeda repete a afirmação de que o Che era um aventureiro romântico e belicista que morre teimando em afirmar suas idéias sobre os caminhos da revolução. Não considera que a larga experiência revolucionária e militar e o conhecimento sobre a realidade latino-americana em geral e boliviana em particular estavam presentes no Comandante Guevara em 1967. O êxito de uma teoria, sua hegemonia num determinado período, não é condição suficiente para atestar sua correção, ou seríamos todos neoliberais. O fracasso da construção revolucionária, armada ou não, neste ou naquele país, em qualquer número deles, não é condição suficiente para negar uma teoria revolucionária, ou não haveriam mais marxistas. Che analisou e ampliou os estudos sobre o aparecimento e maturação de condições revolucionárias durante as épocas de crise, o foco guerrilheiro como fermentador dessas condições, o uso da guerra de guerrilhas como instrumento de emancipação dos povos latino-americanos, asiáticos e africanos. Fiel às suas idéias, colocou-as em prática.

Os objetivos de Castañeda ultrapassam a exposição de seu biografado: ele afirma, e procura evidências que o comprovem, que o Comandante Guevara já estava encurralado muito antes de Quebrada del Churo (muitos se enganam em chamar Yuro), já estava isolado politicamente por suas divergências com Fidel Castro e outros dirigentes dentro de Cuba e não lhe resta alternativa a não ser emigrar com destino ao Congo, com o objetivo de ajudar a revolução latino-americana, primeiro na Argentina, onde pretendia se reunir ao grupo de Masetti, depois na Bolívia. Castañeda afirma que lhe são sonegados metódica e premeditadamente meios e condições para realizar seus projetos. Isolado, é abandonado à própria sorte. Castañeda aponta os culpados – Fidel e a URSS. Tese antiga e renovada. Ricardo Rojo, em seu livro 'Mi Amigo Che', editado em 1967, fala das divergências com Fidel; hoje, de Paris, o comandante Benigno, um dos sobreviventes da guerrilha boliviana, confirma Castañeda. Para Ricardo Rojo, divergências, para Castañeda, intolerâncias.

O livro tem o grande mérito de ser o que Nelson Werneck Sodré chama de livro-fonte, que se destaca na proporção da importância dos fatos narrados, esse traço, apesar de e contra a intenção do autor, só faz valorizar a obra. Trabalho integrado de jornalista, historiador (ao buscar as fontes) e romancista (ao interpretá-las), Castañeda reuniu neste livro tudo o que encontrou para traçar o seu perfil do Che. Arquivos oficiais, de Estado, entrevistas, outras obras etc. foram varridos para compor a biografia do Comandante Guevara. Como o personagem-título é parte destacada integrante de toda a história da segunda metade do século, a narrativa é fascinante, quase sempre pelo interesse surgido dos próprios fatos e seus agentes e não das idéias de quem procurou reuni-los e interpretá-los. Castañeda nos fornece as fontes que utilizou, inúmeras, heterogêneas e dispersas – méritos do jornalista e historiador – a fartura das fontes e a natureza dos acontecimentos conferem ao livro sua importância, cujo valor não está nos critérios e julgamentos de seu autor. Diante do material informativo, de sua abrangência e importância o autor-intérprete se obscurece – limitações do romancista –, o real supera o imaginário. Muitas vezes, quando narramos um fato narramos não somente aquilo que foi, mas aquilo que gostaríamos que tivesse sido, preparando o caminho para aquilo que gostaríamos que fosse, e assim damos a pista para encontrar os fundamentos ideológicos que, consciente ou inconscientemente, nos guiam.

O livro persegue uma utopia, desarmada pela vida e remuniciada pelo autor, a de que pode se manter permanente o que é transitório. '¿Por qué será que el Che tiene esta peligrosa costumbre de seguir naciendo? Cuanto más lo insultan, lo manipulan, lo traicionan, más nace. El es el más nacedor de todos', diz Eduardo Galeano.

Che Guevara discursando na ONU

O livro de Jon Anderson mantém menor distância entre a interpretação e o fato. Anderson não se diz socialista, nem mesmo de esquerda: se qualifica por 'longe de qualquer ideologia'.

Ao contrário de Castañeda, que afirma não ter tido acesso às 'fontes cubanas', Anderson, para colher in loco os dados necessários às suas pesquisas, se muda para Havana com família e bagagens, onde permanece por quase três anos. Lá conta com a inestimável ajuda de Aleida March, viúva do Che, que lhe abre os diários do marido além das próprias reminiscências. Faz pesquisas em órgãos públicos cubanos e inúmeras entrevistas. Realiza trabalhos de coleta de dados e informações também na Argentina, Bolívia, Paraguai, México, Inglaterra, Rússia e EUA. Ancorado em farta documentação e pesquisa, a biografia de Che faz desfilar por nossos olhos a vida de seu biografado, apaixonada e vibrante. Mostra o homem por trás dos bigodes, como diria Drummond. Todas as fases de viragm da vida do Che são expostas à interpretação do leitor: o jovem na Argentina, o amadurecimento permitido pelas andanças pela América Latina, a constatação da necessidade de superar o expontâneo na Guatemala, os preparativos no México, a revolução cubana, o Comandante-Ministro, a opção pela revolução latino-americana via guerrilha, o fim trágico na Bolívia. Anderson descreve os momentos mais cruciais na última fase da vida de Che, o dilema do revolucionário e guerrilheiro entre uma vida de construção do socialismo em Cuba, ou a revolução latino-americana.

Trás de volta a polêmica sobre a difícil, e às vezes subjetiva, escolha entre o 'caminho de Allende' e o 'caminho de Che' ou entre o 'caminho de Moscou' e o 'caminho de Pequim'. Muitos seguiram pelo caminho escolhido, na África, Ásia, América Latina. O slogan criar 'um, dois, três, muitos vietnans' correu o mundo. A constatação se impôs em seguida: a opção pela luta armada nos processos revolucionários é uma opção histórica, classista, não pessoal, derivada da correlação das forças que tendem a manter ou assumir o poder. Conhecer a vida do Comandante Guevara nos aproxima da compreensão dos caminhos da história, e das leis que os regem.

Detalhista, evita ao mesmo tempo o superficial e o circunstancial. Perseguindo a impossível isenção, a sensibilidade e o sentido de eqüidistância de Anderson abriram caminho para a conquista, percebo que o biografado apaixona o autor. Conhecer sua personalidade, sua história, entender a evolução de suas idéias faz parte da necessidade de conhecimento sobre as três Américas, a de cima e as de baixo, e o papel que lhes cabe na transformação-manutenção do mundo em que vivemos. Ajuda-nos a perceber os elos de ligação entre o particular, pessoal e o geral, histórico.

Em 'Che Guevara, uma Biografia' temos o retrato sem retoques de um homem, sem toques demarcatórios, apologéticos ou demonográficos. "[...] sería lo más justo, desde hoy nuestro deber es defenderte de ser Dios.", diz o poeta Vicente Feliú.

Ambos os autores estiveram no Brasil para o lançamento das versões portuguesas de seus livros. Os motivos que levaram a mídia a dar ampla cobertura a Castañeda, incluindo apresentações nos mais assistidos programas de entrevistas na TV, são os mesmos que a fizeram silenciar-se para Anderson.


Grafia original de Ernesto Che Guevara
Escrita original do Che


Caro Leitor, esperamos que a leitura desta resenha, pertencente à Revista Práxis número 10, Outubro de 1997, tenha sido proveitosa e agradável.

São permitidas a reprodução, distribuição e impressão deste texto com a devida e inalienável citação da sua origem. Direitos Reservados ©.


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