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A Revolução de Fevereiro de 1917

Fotografia da Revolução de Fevereiro de 1917, em Petrogrado
Fotografia da Revolução de Fevereiro de 1917,
nas ruas de Petrogrado

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Sergio Lessa
Sergio_Lessa@revistapraxis.cjb.net

Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas, UFAl,
Doutor pelo Departamento de Ciências Sociais da Unicamp, São Paulo.


Nas últimas décadas temos assistido ao crescimento de uma justa luta das mulheres pelo fim das formas específicas de exploração e degradação humanas a que elas, enquanto mulheres, são cotidianamente submetidas. Ao se aproximar mais um Dia Internacional da Mulher, desejamos hipotecar nossa solidariedade e prestar nossa homenagem a esta luta relembrando um fato que tem passado, via de regra, despercebido: foi uma manifestação das mulheres trabalhadoras de Petrogrado, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, que deflagrou a Revolução Russa de 1917.

Em A História da Revolução Russa (Ed. Saga, Rio de Janeiro, 1967), Trotsky conta que "O dia 23 de fevereiro de 1917 era o Dia Internacional da Mulher. Os círculos sociais-democratas tinham intenção de comemorar esta data com panfletos, reuniões e discursos. Não tinha ocorrido a ninguém que ela poderia se transformar no primeiro dia da revolução. Nenhuma organização tinha convocado greve para aquele dia. Ainda mais, mesmo uma organização bolchevique das mais militantes - o Comitê do Distrito de Vyborg, todos operários - está se opondo à greve."

No entanto, no dia 23 de fevereiro, as mulheres de diferentes indústrias têxteis entraram em greve exigindo melhorias no abastecimento de gêneros alimentícios que havia piorado muito com a crise provocada pela entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Enviaram delegados aos metalúrgicos pedindo solidariedade. Kiurov, um dos líderes bolcheviques de Petrogrado é que conta: "Com relutância os bolcheviques concordaram com isso, e eles foram seguidos pelos trabalhadores mencheviques e sociais-revolucionários. Desde que haja uma greve de massas, deve-se chamar todos à rua e tomar a liderança. A idéia de sair às ruas esta há muito na cabeça dos trabalhadores, só que naquele momento ninguém imaginava onde ela iria levar."

No final do dia 23, cerca de 90 mil trabalhadores estavam em greve. Uma grande massa de grevistas se dirigiu para a Duma Municipal (governo municipal czarista) exigindo pão. Algumas bandeiras vermelhas apareceram durante a comemoração. Ocorreram alguns encontros entre a polícia e os manifestantes, mas nesse primeiro dia o movimento se restringiu a Petrogrado. O Dia Internacional da Mulher tinha transcorrido com sucessos: uma manifestação que, no dia anterior, nenhuma das organizações revolucionárias julgara possível, havia desencadeado uma greve de enormes proporções. O que seria do dia 24?

O amanhecer do dia 24 encontrou uma Petrogrado em greve. Contínuas manifestações de grevistas ocorriam na Avenida Nevsky, a principal da capital czarista. Os cossacos (tropas de elite da monarquia, que possuíam sua própria terra e era proprietária dos seus equipamentos militares e de seus cavalos) constantemente avançavam sobre os manifestantes, mas sem maiores violências. "Os cossacos prometeram não atirar, corria de boca em boca."


Fotografia da Revolução Russa de Fevereiro de 1917 em Petrogrado
Cenas da Revolução de Fevereiro
1917 Petrogrado


Nesse segundo dia da revolução começou a surgir, em meio à massa grevista, diferença no tratamento com os aparelhos czaristas de repressão. Em relação à polícia e à polícia secreta, a população mostrava uma clara hostilidade, e os linchava sempre que a situação permitisse. Bem diferente era a atitude da multidão frente ao exército e aos cossacos, uma atitude amigável, buscando o apoio, ou ao menos a neutralidade dos cossacos e dos soldados. Multidões de trabalhadores se dirigiam aos quartéis do exército e dos cossacos. No interior dos quartéis era crescente o descontentamento dos soldados rasos para com os oficiais e o regime, e crescia o mal estar entre eles na medida em que aumentavam os rumores que o governo czarista iria mandar os soldados para a rua reprimir os grevistas.

Na Duma, um fato era contado a meia-voz que, verdadeiro ou não, demonstra bem a tensão do dia: na avenida Nevsky a massa revolucionária estava saudando com hurras os cossacos porque impediram um policial de chicotear uma senhora. Naquele dia, os trabalhadores da Erikson tiveram um encontro interessante com os cossacos na Av. Sompsonievsky. Todos os trabalhadores da fábrica, uns 2500, foram cercados pelos cossacos durante uma manifestação, que receberam ordem de seus oficiais para uma carga sobre os manifestantes. Os cossacos, alguns sorrindo, alguns piscando para os manifestantes, se limitaram a seguir em fila indiana pelo corredor já aberto entre os manifestantes pelos cavalos dos oficiais. Percebendo que outra carga colocaria novamente em contato os cossacos com os trabalhadores e que aqueles poderiam aderir aos manifestantes, os oficiais decidem formar uma barreira com os cavalos para impedir que os manifestantes se dirigissem para o centro da cidade, onde se encontrava a massa dos grevistas. "Mas nem isso ajudou. Ficando parados, em perfeita disciplina, os cossacos não impediram os trabalhadores de mergulhar sob os seus cavalos. A revolução não escolhe seus caminhos: fez seus primeiros passos para a vitória sob o umbigo de um cavalo cossaco."

Isto não significa que os cossacos formassem os setores mais revolucionários do aparelho repressivo czarista. É que, com seus privilégios (propriedade da terra garantida por lei, etc.) eles sentiram mais que os outros soldados a crise causada pela guerra e pelo secular atraso da Rússia czarista. Além disso eles estavam cansados de serem mandados de um local para o outro para reprimir as manifestações e queriam voltar para casa para o cultivo dos campos de primavera.

"No entanto", continua Trotsky, "esses episódios eram meros sintomas. O exército era ainda o exército, estava atado com a sua disciplina, e o comando estava nas mãos da monarquia. A massa dos trabalhadores estava desarmada. Os líderes não pensavam, ainda, numa crise decisiva."

No dia 25 a greve se alastrou ainda mais, atingindo 240 mil operários. Um bom número, mesmo das pequenas indústrias, aderiu à greve. Oradores se dirigiam a grandes multidões no Monumento à Alexandre III quando a polícia secreta abriu fogo. A multidão responde e um oficial e um soldado morrem e vários outros são feridos. Os cossacos, logo após os policiais abrirem fogo sobre os manifestantes, intervêm a favor dos grevistas, dispersando os policiais montados.

Kaiurov conta como, quando um grupo de manifestantes foi disperso pelos chicotes da polícia montada sob os olhares de um destacamento cossaco, ele, ao invés de fugir com os outros manifestantes, se dirigiu aos cossacos com o boné nas mãos: "Irmãos cossacos, ajudem os trabalhadores na sua luta por pedidos pacíficos; vocês vêem como os faraós (apelido da polícia montada) tratam os trabalhadores famintos. Ajudem-nos. Os cossacos se olharam de uma maneira especial", relata Kaiurov, "e nós mal estávamos fora do caminho quando eles investiram na luta. Alguns momentos após [...] a multidão estava carregando nos braços um cossaco que tinha matado um inspetor policial com o seu sabre."

Um grande papel é exercido pelas mulheres para melhorar as relações entre os soldados e os trabalhadores.

Ainda no dia 25, o Czar Nicolau II telegrafa para Kabalov, comandante militar de Petrogrado, ordenando-lhe para acabar com a manifestação "amanhã".

Um levante de massas para ser vitorioso precisa ir acumulando vitórias a cada dia que passa. Uma interrupção na ofensiva revolucionária pode permitir que a reação tome a iniciativa, frustrando o intento revolucionário. Se no dia 25 a vacilação de uma parte do exército e a adesão de uns poucos cossacos tinha jogado a revolução para frente, não o era, em absoluto, suficiente para garantir uma vitória das massas sobre o czarismo. O dia seguinte seria decisivo. O Czar ordenara que o exército saísse às ruas em massa para acabar com a revolução. Como as massas reagiriam sob fogo?

Ainda na noite do dia 25 para o dia 26, centenas de revolucionários foram presos, desarticulando as pequenas organizações que atuam em Petrogrado. Com isso, a liderança bolchevique na greve ficou sob responsabilidade do comitê do distrito operário de Vyborg. Para dificultar ainda mais as coisas, o dia 26 era um domingo, e os trabalhadores não se encontrariam de madrugada nas fábricas.

Logo pela manhã a cidade estava vazia, e a Czarina telegrafou ao Czar: "A cidade está calma". No entanto, aos poucos os trabalhadores se encontravam nos subúrbios e aos grupos se dirigiram à Av. Nevsky. Como o exército havia ocupado as pontes que ligavam os distritos operários ao centro de Petrogrado, os operários cruzaram o rio Neva sobre o gelo. O exército fez fogo, seguido logo pelos moradores dos bairros aristocráticos do outro lado do rio, que atiravam de cima dos telhados e das janelas. Mesmo assim os trabalhadores não recuaram e, tão logo cessou o tiroteio, voltaram para o centro das ruas.


Vista do Cruzador Aurora, às margens do Rio Neva, Leningrado
Fotografia do Cruzador Aurora, às margens do Rio Neva,
em Leningrado


O fuzilamento dos manifestantes fez com que muitos líderes revolucionários considerassem que era chegado o momento de terminar com a greve. O comitê bolchevique de Vyborg discutiu longamente o assunto - isto há doze horas da vitória sobre a monarquia!

Entre os burgueses monarquistas e liberais, e mesmo entre os comandantes de exército, a mesma dúvida existia: o que fazer? Mesmo recebendo ordens de fazer fogo contra os manifestantes, alguns regimentos dos cossacos e do exército haviam demonstrado simpatias em relação aos grevistas. Outro dia de luta poderia fazer com que aumentasse ainda mais essa simpatia, principalmente entre a infantaria. O que seria o mais prudente? Reprimir ou atender a algumas das reivindicações dos grevistas? Os líderes do dois lados oscilavam porque ninguém sabia qual seria a correlação de forças no dia seguinte.

O crescimento da manifestação, em termos de volume, foi acompanhada pelo crescimento das bandeiras de luta. Ao lado das reivindicações econômicas, surgiram com força cada vez maior as bandeiras pedindo o fim da monarquia e do czarismo, o fim da guerra e a reforma agrária.

Na manhã do dia 27, os operários se dirigiram às fábricas e em reuniões decidiram continuar a manifestação. Isto equivalia a iniciar uma insurreição - mas ninguém ainda havia pronunciado esta palavra. O staff central bolchevique, naqueles dias composto por Shiliapnikov, Molotov e Zalutsky estava completamente sem iniciativa. Como armar os manifestantes para enfrentar o exército czarista?

De manhã, 40 comitês de fábrica se reuniram na casa de Kaiurov. Nem todos eles se manifestaram pela continuidade do movimento. Foi nesse momento que os grevistas receberam as primeiras notícias da insurreição de alguns regimentos do exército e da abertura de algumas prisões políticas. O regimento Volynski havia fuzilado o comandante e se recusava a sair para reprimir os manifestantes. Acontecimentos semelhantes envolveram outros regimentos e batalhões. No decorrer do dia surgiram os primeiros carros de combate com bandeiras vermelhas. No final do dia 27 Petrogrado estava transformada num enorme campo militar: o fogo das metralhadoras e dos fuzis enchia a cidade. Mais alguns dias e o Czar abdicaria, entregando o poder ao Governo Provisório. O fim do czarismo havia chegado. Um longo ano de acirradas disputas ainda separava esta vitória de fevereiro da tomada do poder pelos bolcheviques em novembro. Isto em nada diminui, contudo, a importância da ousada iniciativa das mulheres trabalhadoras de Petrogrado no Dia Internacional da Mulher de 1917.


Trechos Originais da Revolução Russa


Caro Leitor, esperamos que a leitura deste artigo, pertencente à Revista Práxis número 1, de 1994, tenha sido proveitosa e agradável.

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