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| Programa Sistemático |
Hegel, Hölderlin, Schelling
Tradutor: Paulo Costa Galvão
Fragmento de um manuscrito escrito por Hegel, que foi encontrado por Franz Rosenzweig, em 1917. A autoria provável é de Hegel, Hölderlin e Schelling, em conjunto.
(Texto Original em alemão)
[...] uma ética. Como no futuro a metafísica desemboca na moral por inteiro (Kant com seus dois postulados práticos deu só um exemplo disto, não esgotou nada), tal ética será um sistema completo de todas as Idéias ou — a mesma coisa — de todos os postulados práticos. A primeira idéia é a representação de mim mesmo como um ser livre em absoluto. Surge ao mesmo tempo, com o ser livre, a consciência de si mesmo, e um mundo inteiro – do nada –, a única verdadeira e concebível criação a partir do nada. Aqui alcançarei os domínios da física; a questão é esta: como deve ser o mundo, para que ele próprio seja um mundo moral? À nossa lenta ciência da física, avançando por meio de experimentos laboriosos, eu daria asas novas.
Assim, se a filosofia oferece as idéias e a experiência, os dados, podemos afinal conquistar a física na escala ampla que eu espero vê-la alcançar em épocas futuras. Não parece que a física de hoje possa satisfazer um espírito criador, como o nosso é ou deve ser.
Da natureza passo à obra humana. Com a Idéia de humanidade à minha frente, quero mostrar que não existe Idéia do Estado, assim como não existe a Idéia de uma máquina — porque o estado é algo mecânico. Somente o que é objeto da liberdade se chama Idéia. Portanto devemos superar o Estado!— pois todo Estado tem de tratar homens livres como engrenagens mecânicas; e isso ele não pode fazer: portanto, o Estado deve acabar. Vocês podem constatar por si mesmos que todas as Idéias de paz perpétua etc. são apenas Idéias subordinadas a uma Idéia superior. Ao mesmo tempo, quero aqui assentar os princípios para uma história da humanidade e desnudar até a pele a miserável obra humana do Estado, da constituição, da legislação. Por fim, virão as Idéias de um mundo moral, e divindade, imortalidade – vamos subverter toda pseudo fé, e atacaremos com nossa Razão a classe dos sacerdotes, que hoje em dia se dá ares de racional. – Absoluta liberdade de todos os espíritos, que carregam em si o mundo intelectual e não têm o direito de buscar nem Deus nem imortalidade fora de si.
Enfim, alcançaremos a Idéia que unifica tudo, a Idéia da beleza, tomando a palavra em seu sentido superior, platônico. Pois estou convicto de que o ato supremo da Razão, aquele em que ela engloba todas as Idéias, é um ato estético, e de que verdade e bondade só aparecem irmanadas na beleza. O filósofo tem de possuir a mesma força estética do poeta. Os homens sem senso estético são os nossos filósofos das letras. Não se pode realizar nada sem espírito, mesmo sobre a história não se pode raciocinar sem espírito – sem senso estético. Aqui devemos deixar patente o que falta aos homens que não entendem Idéias – e com bastante sinceridade confessam que para eles tudo é obscuro, tão logo as coisas ultrapassem os limites das tabelas e registros.
A poesia adquire com isso uma dignidade superior, vai se tornar outra vez no fim o que foi no começo – mestra da humanidade; pois não existirá mais filosofia nem história, a arte poética sobreviverá a todas as ciências e às outras artes.
Já ouvimos tantas vezes dizerem que a grande massa precisa ter uma religião sensível. Não apenas a massa anônima, mas também o filósofo precisa de uma religião sensível. Monoteísmo da razão e do coração, politeísmo da imaginação e da arte, é disso que todos precisamos.
Falarei aqui pela primeira vez de uma Idéia que, me parece, ainda não ocorreu a nenhum espírito humano: precisamos de uma nova mitologia, mas essa mitologia tem de estar a serviço das Idéias, tem de se tornar uma mitologia da Razão.
Enquanto não transformarmos as Idéias em Idéias mitológicas, isto é, estéticas, elas não terão nenhum interesse para o povo; e vice-versa, enquanto a mitologia não for racional, o filósofo sempre sentirá vergonha dela. Assim, ilustrados e não-ilustrados deverão dar-se as mãos, a mitologia terá de se tornar filosófica e o povo racional; por outro lado, a filosofia terá de se tornar mitológica, para fazer sensíveis os filósofos. Então reinará eterna unidade entre nós. Nunca mais os homens se olharão com olhar de rechaço, nunca mais o povo tremerá, cego perante os sábios e sacerdotes. Só então possuiremos uma cultura igual para todos; a cultura será a mesma para cada um e todos os indivíduos. Nenhuma força mais será reprimida. Então reinará universal liberdade e igualdade dos espíritos! É necessário que um espírito superior, enviado dos céus, funde entre nós essa nova religião; ela será a última obra, a obra máxima da humanidade.
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Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831)
Caro Leitor, esperamos que a leitura deste texto de Hegel, inédito entre nós, contendo algumas de suas bases filosóficas para o romantismo, tenha sido proveitosa, instrutiva e agradável.
São permitidas a reprodução, distribuição e impressão deste texto com a devida e inalienável citação da sua origem. © Direitos da tradução reservados ao Tradutor e seus Editores.
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